quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Todo poderoso


Quando as pessoas passam por uma crise muito forte, como escapar de um acidente com vida, a maioria decide viver de maneira diferente. Reconhecem que a vida é maravilhosa e que não devem perder tempo com besteiras, com brigas inúteis, mau humor. Que estão aqui para buscar a felicidade. Felizmente nunca passei por um momento destes, mas sei que não preciso viver todas as experiências para aprender o que é melhor. Uma boa observação na vida dos outros pode tornar a nossa mais feliz e tranqüila. E repetir erros é tolice.
Isso significa que não posso reclamar de nada, minha vida é equilibrada e só tenho pessoas maravilhosas perto de mim. Quando acontece alguma dificuldade, o apoio também aparece. Pela minha lógica isso não é nenhum privilégio divino, ou talvez até seja, mas acredito que é o modo como encaro os problemas. Pode ser a famosa lei da atração. Pensar de maneira positiva e em soluções em vez de desculpas facilita muito.
Visitando a loja de uma amiga na semana passada, elogiei tudo, porque acho tudo realmente de bom gosto. Nem tudo serve para mim e nem por isso deixa de ser bem feito e bonito. Experimentando as roupas costumo dizer que quando a pessoa é simpática tudo fica bem. Ela dá gargalhada e diz que sou o oposto de outras pessoas, que entram na loja e só dizem que nada lhes agrada, mas acabam elogiando as mesmas peças em outras clientes.
Ainda pensando nisso, troquei de canal na televisão e o filme era “Todo Poderoso”, com Jim Carrey (Bruce) como um jornalista que assume o lugar de Deus (Morgan Freeman) por um tempo. Em uma cena do filme, Bruce sofre um acidente e o enfermeiro diz na hora em que ele acorda:
- Alguém lá em cima gosta de você.
Acredite nisso, de verdade, mesmo que no momento, esse alguém seja apenas a vizinha do apartamento de cima.

domingo, 7 de outubro de 2007

Sim ou não ao internetês


Quando o internetês apareceu na minha casa fiquei preocupada.
Internetês é a simplificação, abreviação, ou supressão de letras usada na comunicação dos jovens pela internet. Também pode significar glossário de termos utilizados na internet, telecomunicações, televisão interativa e outras áreas tecnológicas.
Tudo começou nas conversas no MSN. Meu filho adolescente escreveu para mim – pq vc naum xegou ainda. Traduzindo – por que você não chegou ainda? Essa conversa ficou longa, cheia de letras, e poucas vogais.
Tratei de aprender rápido o novo código para não correr o risco de ser tachada de ultrapassada. Depois foi a fase da informação. Será que isso não poderia prejudicá-lo na escrita?
A maioria dos professores acha que não. Considera que fugir das regras é divertido para os jovens, e que não estão usando uma nova linguagem, apenas uma técnica de abreviação. Aqueles que discordam argumentam que o aprendizado da escrita depende da memória visual e assim estaria prejudicando sim. Bem, se o aluno lê bastante e tem os seus textos corrigidos, supera a dificuldade facilmente.
Um canal de TV paga criou o Cyber Movie, uma sessão onde as legendas são em internetês e aumentou em 60% sua audiência. Os jovens acham mais fácil e rápido ler dessa forma e assistem mais filmes.
Mantidas as proporções e as novas tecnologias, nós que somos pais, tios ou avós, também tínhamos os nossos códigos. O objetivo era manter segredos, caracterizar nosso grupo, não permitir que ninguém soubesse dos nossos planos. As roupas, os cortes de cabelo, as preferências literárias, não deixam de ser códigos que usamos para nos comunicar com esse ou aquele grupo.
O problema só existe se isso afastar os jovens de uma boa conversa. Criar uma distância intransponível no relacionamento familiar.
Claro que muitos jovens brasileiros não sofrerão desse mal. Em um país onde a maioria não usa computador o internetês também será um termômetro para medir a exclusão digital.
Para quem já passou dos quarenta, mas adora internet, recomendo essa nova brincadeira, é divertido, vá treinando.
Kd vc = Cade você?, Flw = Falou , T+ = Até Mais , Oq = O quê?, c = Se ,Vlw = Valeu, Eh = É, Mto = Muito, blz = Beleza, Tb = Também, naum = Não, vc = Você, qm = Quem, tah = tá, certo, tudo bem, D+ = demais, aki = aqui.
V C LÊ E DIVULGA, TAH? D+ VER VC AKI.

Rir é o melhor remédio


Quando eu era adolescente alugamos uma casa que tinha uma peça separada nos fundos do terreno. Logo descobri a chave, e numa tarde em que estava sozinha em casa resolvi desvendar os mistérios do anexo. Era uma pequena biblioteca com uma imensa coleção da revista Seleções. A revista existe até hoje, aliás, completa sessenta e cinco anos de publicação. Um dos segmentos é o “Rir é o melhor remédio”. Na época fiquei viciada e li em todas as revistas, uma a uma. Adorava dar risadas, passava as tardes assim, lendo e rindo. As piadas eram boas, sem maldade, mas muito divertidas. E quem não gosta de rir?
Até hoje procuro sorrir sempre, achar um lado engraçado nas coisas. Não um deboche ou falta de respeito, mas uma graça, um motivo para dar uma gargalhada e relaxar um pouco. Isso acaba me ajudando porque eu rio das minhas próprias gafes e ainda conto para os outros. Acho que é genético, meu pai era assim. Ele morreu faz pouco, já contei, e quando ele já estava em coma, minha mãe me deu uma tarefa muito difícil. Eu deveria ir ao cemitério, no jazigo da família, onde estão enterrados meus antepassados, para verificar as condições e arrumar o que fosse preciso. Além de o local me provocar arrepios, a tristeza por estar precipitando algo que eu não queria passar me corroia por dentro. Enfrentei. E como precisava de uma reforma tive que tratar com um senhor já antigo no trabalho, muito falante e solidário. Ao perceber minha tristeza ele perguntou todos os detalhes e tentando me consolar disse que o que eu estava fazendo era o certo, e que a maioria das pessoas que toma essa atitude acaba dando sorte para o doente que dura mais um mês até. Para ajudar saiu contando outros casos dando exemplos e apontando os túmulos em reforma.
Na hora só pude rir da simplicidade do homem, que acostumado com a morte julgava que uns dias a mais poderiam me servir de consolo. A risada aliviou minha tensão e me fez ver que tudo isso não era nada diante das muitas coisas boas que eu tinha feito com meu pai enquanto ele tinha saúde e o quanto tínhamos rido juntos.

Respostas

Sempre procuro respostas. Mal uma pergunta começa a ser formulada e já estou pensando em uma maneira para respondê-la. Um modo, uma solução. É comum pensar que sempre tem um jeito.
E a vida me diz que para a velhice e a doença na velhice, não existe solução. Encontrar um meio de lidar com isso não é fácil. Eu quero acreditar que é bom envelhecer com saúde, é, eu sei. Mas não é para sempre.
De repente aquele sujeito alegre, cheio de histórias, quase com oitenta e cinco anos, vira bebê. Não come com sua própria mão, não consegue ir ao banheiro, nem sequer sente que quer ir ao banheiro.
Estranho é que ele diz sim a todas as minhas perguntas e sorri sempre. Mais estranho é, que se eu pudesse simplesmente apertar em um botão, e desligá-lo de tudo que ele está passando, eu faria.
Chega, uma vida é legal enquanto a gente pode mandar nela. Depois é humilhação, sofrimento.
Talvez este sofrimento sirva para resgatar algo que temos que viver nessa vida, para amansar o egoísmo, unir a família. Mostrar que dinheiro não adianta, só dá alguma dignidade. E nem é tanto, nem suficiente.
O plano de saúde que toma a metade do meu salário, proporciona certo conforto, menos ao meu coração.
Tenho privilégios que outros não têm. Passo a frente deles nas filas e isso não muda nada. Não responde nada.
Ao contrário, mostra diferenças que eu me envergonho de ter.
Como devo agir, como será daqui para frente, quanto tempo vou viver esta situação? Não sei a resposta.
Dá vontade fazer da vida um programa na televisão e ficar sentado, com o controle remoto na mão. Se estiver chato, troco de canal. Dia de comédia - aproveito. Dia de votação, elimino o problema.
Mas não vai funcionar por muito tempo.
Quem sabe a resposta não é encarar da melhor forma possível, agir com o coração, com aquela velha intuição e superar.
Escrever sobre a doença do meu pai, sua passagem pelo hospital e espero que seu retorno para casa, em melhor estado, é um desabafo, pois não consigo pensar em outra coisa. Também é uma maneira de dizer para outras pessoas que tem alguém que sofre como elas, que temos os mesmos problemas. Que buscamos respostas.
Essa reflexão lembrou-me a última frase de uma resenha de Celso Gutfreind, sorbre o livro da Cíntia Moscovich – Por que Sou Gorda, Mamãe?.
“Por que Sou Gorda Mamãe? Sugere ainda, com simplicidade, brabeza e doçura, que a vida pode ser interessante nela mesma, na morte revisitada ou, juntando tudo, na literatura.”
Acho que é uma resposta. Na alegria ou na tristeza, a vida acaba valendo a pena, e quem sabe vira até livro.


Obs: meu pai faleceu dias depois.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Qual o seu papel?


Esta é uma brincadeira que sempre gostei de fazer, desde criança. A pergunta é – o que você quer ser?
Crianças adoram ser príncipes e princesas, heróis, bandidos, bonzinhos e malvados.
É bom se dar o direito de ser um cantor e soltar a voz. De ser um ator e representar uma peça. Recitar um poema.
É um exercício lúdico bom de fazer a vida inteira. Foi assim que aprendi a me colocar no lugar dos outros.
Faço de conta que sou minha mãe e consigo entender um pouco mais como é difícil envelhecer, ficar longe dos filhos. Faço de conta que sou meu filho e fica fácil ver como a mãe dele é chata, quando manda para o banho no melhor do jogo.
Trocar de papéis, só um pouquinho, muda o ângulo de visão, a maneira de enxergar as coisas.
Para sentir na prática é só trocar de papéis em atividades reais. No trabalho, ou na faculdade - sendo aluno em vez de professor, servindo em vez de ser servido. Estas idéias me atraem.
Participei uma ocasião de um almoço de final de ano, em uma empresa onde todos os diretores serviam as mesas nas festas. Os funcionários ficavam acanhados no início, mas depois todos estavam à vontade. É uma maneira que os diretores encontraram para retribuir a cortesia com que seus empregados os tratam durante o ano todo.
Ver de maneira diferente desenvolve a criatividade e dá uma chacoalhada na monotonia. Mesmo que certas coisas pareçam não oferecer opções de enfoque, pode sim haver outra maneira.
Moro em Porto Alegre há vinte anos e nunca tinha feito um passeio de barco pelo Guaíba. Surgiu uma oportunidade e aproveitei. O visual é lindo, é diferente, e o pôr-do-sol pode ser mais bonito ainda.
Em uma cena do filme a Era do Gelo 2, uma família se forma, em seguida cada um quer saber qual papel pode ocupar. Sid ( a preguiça) quer ser o cachorro. Muito boa essa cena. A importância que cada um atribui a determinado papel estabelece sua responsabilidade ao exercê-lo.
Temos um papel, um significado, em todas as atividades que exercemos, na família, na política, na sociedade.
Então pergunte a si mesmo qual o papel você quer exercer.

drama

troca de personagens
ele texto
ela imagem

Por que publicar?


Lendo a coluna do Paulo Toledo na Cronópios, onde o título é este mesmo da minha, tomei a pergunta para mim. Por que publicar textos, poesias, dicas literárias, comentários? Por que azucrinar o próximo?
Escrever me faz feliz, é claro não sou masoquista. Os leitores curiosos não resistem. Eu sei, sou compulsiva também. Leio bula de remédio, lista telefônica, dicionário, jornal, revista, livros e mais livros, porta de banheiro público e muito mais.
Uma vez achei até um tesouro. Alugamos uma casa, eu tinha quatorze anos, nos fundos tinha um depósito. Um dia estava sem nada para fazer, testei algumas chaves e uma delas abriu o cadeado.
Era um quartinho do tamanho de uma sala de visitas de um apartamento pequeno. Lá dentro, um sofá e uma enorme prateleira que dava a volta na sala. Na prateleira coleções de revistas e livros.
Nos primeiros dois dias não sei o que fiz mais, li ou espirrei. Depois fui arejando o lugar e levando de uma em uma para ler em casa, marcava o lugar e colocava tudo lá de volta, em respeito à biblioteca.
Quando nos mudamos, despedi-me dela como quem muda de cidade e deixa os amigos.
Por isso eu gosto de publicar, alguém lê, e meu texto pode mudar a rotina naquele dia. Pode, quem sabe despertar a curiosidade para uma outra atitude ou forma de pensar.
Quero publicar em papel também porque muitas pessoas que eu conheço e outras tantas que ainda não conheço, não têm acesso à internet. E muitas outras que andam no trem e no ônibus comigo poderão ler meus livros na viagem. Escrevo e quero publicar para obter aprovação, para ser amada, para fazer a diferença somando, multiplicando.

Livros

nas folhas de papel
aroma é vestígio
de sentimento escondido

Personagens


Essa é a história de um amigo de um amigo meu que queria muito ser escritor. Desses famosos, que vivem de literatura. O sujeito escrevia muito e lia muito também. Ficava aporrinhando todo mundo para ler seus textos. Levava nas reuniões de amigos e da família, no bar, até no velório do tio ele levou.
Pedia opinião, uma crítica, um comentário. Todos liam e diziam que era bom. Ele ficava satisfeito na hora, mas logo batia uma insatisfação que só melhorava se ele escrevesse mais.
A mãe era a única que guardava as cópias, que já enchiam a gaveta do meio da cômoda. Cômoda antiga, gavetas grandes.
Um amigo dele sugeriu que comprasse um computador. Poderia escrever mais rápido, gravar tudo, usar a internet e passar para outras pessoas. Fazer amigos e mandar seus escritos pelo mundo. E ele fez exatamente assim e mais. Participou de concursos, foi premiado, arrumou trabalho como colunista de uma revista importante.
Então os editores começaram a ditar regras e ele escrevia sob encomenda.
A insatisfação voltou com força e ele criou um personagem, alguém livre para escrever. Podia mostrar os textos dele na família, como se fossem de um grande amigo. Todos queriam conhecer o tal amigo que escrevia tão bem. Tanto que ele precisou criar um rosto para o personagem, um estilo uma personalidade, uma história.
Falava muito nele com a esposa, que adorava as histórias do tal amigo. Ela adorava o modo como ele se vestia, os versos que ele declamava, as viagens que ele tinha feito. Passava horas ouvindo o marido contar.
E o personagem foi ficando forte, ocupando todos os espaços, ocupando seu lugar na revista, comprando roupas diferentes, trocando de carro, sorrindo e desfilando nu pela casa.
Os parentes resolveram dar um basta e procuraram a esposa para interná-lo a força.
A surpresa foi imensa.
Ela disse que jamais faria isso, pois ele era muito mais romântico, beijava muito melhor. Era um amante extraordinário. O outro, o escritor aquele, que ficasse bem longe.
Verdade ou não, mantenho meus personagens bem distantes!

Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada.
Uma vez decorei o poema do Manuel Bandeira. Não recitava para ninguém porque lá, neste lugar paradisíaco, tinha alcalóide à vontade e prostitutas bonitas. Não ficava bem para uma menina repetir esses versos, mesmo tendo sido escritos pelo Bandeira. Mas também tem os versos:
...”E quando estiver cansadoDeito na beira do rioMando chamar a mãe-d'águaPra me contar as históriasQue no tempo de eu meninoRosa vinha me contar”...
Quem me dera hoje, poder ouvir as histórias como criança, deitada na sombra, livre de problemas, preocupações, acreditando só na vida. Do tempo de eu menina. Pasárgada pode ser uma noite bem dormida, dinheiro na conta, saúde para todos – já é demais. Pode ser uma viagem de ônibus de volta para casa, ou o celular que não toca para dar notícias ruins.
Depois de grandes na idade, os lugares imaginários ficam mais distantes e quase inatingíveis, mas a sensação de paz, de calor e fantasia – não esquecemos jamais. Basta ficar assim quietinho, respirar fundo e soltar a imaginação.
...”E quando eu estiver mais tristeMas triste de não ter jeito”...
Vou-me embora pra Pasárgada.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Otimista de Carteirinha

Além de bem-humorada sou otimista, é quase óbvio.
José Saramago, prêmio Nobel de Literatura em 1988, o primeiro para a língua portuguesa, disse em uma entrevista que os pessimistas são pessoas insatisfeitas com o mundo. E que, em princípio, seriam as únicas interessadas em alterar a rotina, já que para os otimistas tudo está bem.
Acho que não, os otimistas acreditam que tudo deve acabar bem e fazem o possível e o impossível para alcançar este objetivo. Se alguma indicação apontar para um problema ou erro, nós pensamos em um outro jeito. Uma nova maneira para fazer dar certo.
Os pessimistas é que são acomodados. Se é que vai dar errado mesmo não precisam fazer nada. O mundo é péssimo e está acabado.
Claro, tudo depende de como a gente analisa a questão. E eu discordando do Saramago! Discordando não, dando outro enfoque, só isso.
Isso porque os otimistas são criativos, e a criatividade é um fator de superação, uma nova maneira de encarar os problemas.
Acredito que discordar, desde que não seja só para contrariar, é um caminho para descobrir coisas novas. Só acontece algo novo se agirmos de maneira diferente da habitual. Tudo óbvio? Mas é isso que a gente esquece, o que é simples.
No livro “As Intermitências da Morte” de José Saramago, a morte deixa de matar por um tempo, depois espantosamente, volta a agir.
A morte é inevitável, mas como otimista de carteirinha, confio que haja uma outra vida depois.

Morte


Começo de uma nova vida?
Fim de tudo, caos, despedida.
Sem dia, sem hora marcada, chega de repente ou é pelos remédios adiada.
Palavra proibida, rumo inevitável.
Se fosse possível, seria melhor inverter:
Começar com a morte e depois sobreviver.
Nascer velho e rejuvenescer.
Mas a natureza é sábia, divina.
É no auge da juventude que devemos aprender para então na velhice, olhar para trás, colher os frutos, talvez se arrepender.
Mas alguns ainda jovens pulam todas as etapas.
Sem explicação aparente, sem nada dizer, deixam esse mundo e nada podemos fazer.
Sofre quem fica e só tem alento, se em outra vida acredita.

sábado, 14 de julho de 2007

Para onde vão os objetos perdidos?


O mundo está dividido em dois grandes grupos de pessoas. As que perdem coisas e as que acham. Existem grandes perdedores e grandes descobridores. Para perder é muito fácil, basta que o dono se desconecte dele por um momento, um desapego, e o objeto cai em esquecimento momentâneo e torna-se perdido.
Como a maioria das pessoas perde muito mais do que acha, fica a pergunta – para onde vão os objetos perdidos?
Para achar estes objetos é preciso certo treino e uma pitada de sorte. É importante estabelecer que a pessoa que acha, na maioria das vezes não é a que perdeu.
Ouvi certa vez o depoimento de um sujeito no ônibus, ele era um grande descobridor de guarda-chuvas perdidos. A técnica usada é muito simples, quase óbvia. Em dias de chuva quando o sol aparece sem aviso, os ditos objetos protetores são esquecidos, largados. Em ônibus, balcões, banheiros público, provadores de lojas, restaurantes e praças. É só ficar atento para encontrá-los. Ninguém gosta de carregar um guarda-chuva se ele não for útil no momento.
Este mesmo homem intitulou-se um iniciante em encontrar vales-transporte. Como utilizava transporte coletivo quase todos os dias, percebeu que as pessoas costumavam buscar na bolsa, os vales, ainda na parada, e com pressa acabavam derrubando algum antes de entrar no ônibus.
É uma idéia coerente. Assim fica fácil entender porque perdemos óculos quando o sol vai embora, canetas em sessões de autógrafos, cadernos em sala de aula, casacos quando esquenta, filhos em shoping center.
Na ânsia de encontrar nossos objetos perdidos podemos apelar aos santos. São Longuinho é especialista nesta tarefa. Exigindo para pagamento apenas três pulinhos. A regra é dizer ao São Longuinho, que se a coisa perdida for achada, você, que perdeu, dará três pulinhos.
Quando não são encontrados pelos incríveis descobridores, os objetos vão para um lugar mágico, onde milhares de objetos solitários esperam inconformados pelos verdadeiros donos. São catalogados e colocados aos pares em pequenas prateleiras. Existem seres especiais, quase místicos que são responsáveis pela guarda das salas e para receber os possíveis donos, caso algum deles apareça. O ambiente é sombrio e o cheiro é quase mofento.
Afirmo com convicção, pois já fui abduzida por um amigo até uma destas salas para procurar uma mala perdida.
Onde fica?
Ali mesmo, no prédio dos Correios.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Objetos e pessoas


Não consigo fugir das comparações. Um pouco pela forma, outro tanto pelo conteúdo. Um exercício. Olho para alguém e penso em cores, em frutas, em lugares, em poesias ou em palavras. Em objetos.
As comparações são ilimitadas. Ou seriam associações?
Com o tempo, se vejo a pessoa seguidamente ou se é um amigo, assume o objeto só para ele.
Tenho um amigo que é vermelho, de fruta é figo porque adora figo com strogonofe, o objeto dele é guitarra porque também é músico. Uma guitarra vermelha.
Tenho amiga microondas porque cozinha de dentro para fora, fica dias fervendo antes de explodir. Tem a geladeira que vive dando gelo nas pessoas, qualquer coisa emburra.
A abajur sempre trás uma luz quando estou chateada e usa uma saia tipo pantalha. De fruta é maçã, pois fica corada quando diz alguma bobagem.
Tive um chefe liquidificador, misturava todos os motivos, colocava uma pitada de raiva, muito mau humor e despejava em todo mundo como se fossem taças de Milk shake.
Outros amigos são livros, guardam poesias, crônicas e contos. São histórias que nos aproximaram um dia.
Minha mãe é uma casa, como no livro da Sylvia Orthof. “Se a casa fosse mãe, seria mãe das janelas, conversaria com a lua sobre as crianças estrelas, falaria de receitas, pastéis de vento, quindins, emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins”. Meu pai é jardim, com banco para ler histórias e fonte para os passarinhos.
Tenho filho varinha de condão, pois trouxe uma mágica nova para a minha vida, e um amor que é edredom. Aconchego e proteção com cheiro de amaciante. Café quente no inverno e chá gelado no verão.
E os amigos malas é claro, como todo mundo tem.
Eu também sou esses objetos, textos, poesias e um pouco mala, às vezes.

O zorro II


Tudo começou quando eu disse que escrevo sobre qualquer coisa, até sobre o cocô do cavalo do Zorro. Não que essas bobagens possam interessar a alguém além de mim. O que importa o excremento do cavalo do mascarado? Teoricamente nada. Mas qualquer coisa pode ser o início de uma conversa, ou de um texto, e um assunto puxa outro, uma palavra traz outra e assim uma crônica.
Em tempos modernos de investigação o famoso cocô poderia indicar o que o cavalo comeu ou seus hábitos mais secretos. Agora, me faz lembrar o filme. O seriado que eu adorava quando era criança.
Refiro-me a versão mais famosa do Zorro, uma série com Guy Williams que foi ao ar em 1958. O cavaleiro mascarado tinha como missão devolver a dignidade a um povo pobre e oprimido. Don Diego De La Vega, filho de Alejandro De La Vega (George J. Lewis), um rico estancieiro, é o Zorro, que sem a máscara é calmo, preguiçoso, amante da música, desajeitado. Isso para esconder o valente e astuto Zorro. Boa essa de dupla personalidade, resolver os problemas do mundo sem precisar mostrar a cara.
Ele tem um criado, o Bernardo, que é mudo e se faz de surdo para ser os ouvidos do Zorro. Representado pelo ator Gene Sheldon. O sargento Garcia, interpretado por Henry Calvin, gosta mesmo é de contar vantagem.
O Zorro tinha notada habilidade com a espada e o chicote. Deixava sua marca, um grande “Z”rabiscado com a espada pelas paredes e até na barriga do sargento Garcia. Isso tudo permanece nas versões mais modernas, por exemplo, A Lenda do Zorro, com Antonio Banderas. O cavalo era representado pelo cavalo mesmo, e o cocô do cavalo nunca apareceu no filme não.
Mas essa conversa, ou crônica, deu muito que falar. Os amigos mais antigos prontamente avisaram que o Guy Williams, nosso famoso Zorro também atuou como Prof. John Robinson em outro seriado da época, Perdidos no Espaço (Lost in Space). Como poderia esquecer June Lockhart (Maureen Robinson), Mark Goddard (Major Donald West), Marta Kristen (Judy Robinson), Billy Mumy (Will Robinson), Angela Cartwright (Penny Robinson), Jonathan Harris (Dr. Zachary Smith) e Bob May (Robô B9-classe M3).
Outros tantos disseram que o país está precisando de um herói, como o Zorro. Talvez, de mascarados já estamos cheios! Mas particularmente, fico analisando o quanto reclamamos e o quanto estamos realmente dispostos a fazer alguma coisa prática. Nada de armas, claro. Sair assim do nosso conforto, da nossa rotina, usar algumas horas para contribuir com a uma ação que pudesse significar mudança em outras pessoas, crescimento.
Acho que estamos mais para cocô do cavalo do Zorro.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

O que seria?

O que seria da amizade
Se um amigo não aparecesse
Do nada para nos fazer sorrir,
Para acompanhar em um momento difícil,
Ou simplesmente tomar um café?
- Seria nada.
O que seria da paixão
Sem fantasia, sem surpresa ou perfume,
Sem boca vermelha,
Mordida na orelha
E ciúme?
- Rotina.
O que seria do amor sem carinho,
Respeito, amizade. Sem ser
Companheiro, dividir, ceder, perdoar?
- Vazio.
O que seria da vida sem o imprevisto,
O arrependimento, a busca e a fé?
- Morte.
O que seria da morte sem aqueles
Que acreditam no fim de tudo e os outros
Que sabem que existe outra vida, outras vidas?
- Mentira.
O que seria do domingo
Se não fosse prenúncio de segunda-feira,
De tédio, de falta de inspiração?
- Seria outro dia.
E se o conto não virasse romance e
A imaginação não permitisse sonhar?
O mundo seria diferente
E de certo
Sem poesia.

O melhor sono


Aprendemos desde cedo a observar, tirar conclusões e usar da experiência de outros para não repetir os mesmos erros. Algumas coisas, nós fazemos, mesmo com a certeza de que é um risco ou faz mal a saúde. Fumamos, bebemos, aceleramos em locais proibidos.
E tantos outros pecadilhos.
Ciente, ou quase, dos danos que teremos que arcar.
Talvez porque no íntimo, julgamos que determinados acontecimentos não nos atingirão jamais. É difícil aceitar até que aconteçam com os outros.
Há anos eu menosprezava a depressão, achava exagero, frescura até. Foi uma depressão após o parto que me fez reconhecer a gravidade do problema.
Fui aprendendo a respeitar os problemas de todos.
Sempre acreditei também, que exames médicos não devem ser temidos, afinal eles estão aí para nos ajudar. Se for diagnosticado um problema, que venha, devemos enfrentá-lo.
Novamente falhei na avaliação e na semana passada, me apavorei com uma endoscopia.
Todos dizendo que era simples e eu tremendo.
Senti-me um pouco aliviada no dia do exame, pois meus companheiros de espera compartilhavam da mesma angústia. Ri, falei muito, foi a maneira que usei para enfrentar o nervosismo.
Depois veio o remedinho aquele que bota a gente para dormir, derruba até elefante. É remédio para se tomar deitado porque senão a cama jamais será encontrada. O maldito pode produzir amnésia anterógrada, ou seja, esquecemos os eventos recentes. Esqueci totalmente o trajeto do hospital até em casa.
Dormi o dia inteiro, acordei com a cabeça leve.
Assim fica fácil entender, porque as pessoas que não conseguem enfrentar determinadas situações, recorrem às drogas. Fugir do mundo e dos problemas pode parecer uma delícia.
Sofri pelo resultado, azucrinei todo mundo mas felizmente não é nada grave.
E tirei mais uma conclusão importante – mentira de quem diz que o melhor sono é o sono depois do sexo. É mesmo o sono depois da endoscopia.
Piadas a parte, tem horas em que seria bom ser criança novamente e não ter preocupações.

O melhor no final

Tem muita gente que prefere deixar o melhor para o final. Primeiro as notícias ruins, depois as boas. Primeiro as tarefas complicadas, depois as fáceis. Assuntos chatos primeiro, depois os mais leves. Para ficar livre logo do que parece mais difícil.
O Jorge e o Paulo, meus primos, eram assim quando pequenos. Na hora do almoço deixavam por último a carne, que consideravam o melhor. Época de pouca carne aquela, bife era luxo. Carne de primeira então, nem se fala. Achava maravilhoso o ritual que os dois faziam, contornando a carne, comendo o arroz com feijão, a salada e a guarnição. Sobrava no prato limpo, soberano, o bife. Segurando com o garfo e protegendo com a faca eles encontravam a melhor posição e finalmente, com cortes precisos, faziam filetes que eram levados lentamente à boca. Enquanto mastigavam, os talheres permaneciam protegendo o restante da carne.
Como boa aprendiza, copiei a tática. Quando ganhei uma caixa com seis doces, só para mim, apliquei o que foi observado. Comi primeiro os quindins, depois os branquinhos e deixei os dois brigadeiros, maravilhosos, para o final. No meu exército de doces preferidos, eles, os brigadeiros, desrespeitam qualquer hierarquia militar e são superiores a qualquer general olho-de-sogra e marechal papo-de-anjo. Na hora do bem merecido ataque, minha mãe recebeu uma visita, uma amiga que trouxe junto uma filha. A danada já entrou de olho na minha caixa. E o general mãe decretou que os últimos dois seriam destinados a ela. De boca lambuzada e cheia de raiva, entreguei-os para a morte naquela boquinha desdentada.
Teorias reprovadas desde muito cedo, impedem-me de deixar sempre o melhor para o final. Se tiver coisa boa que venha agora, pois coisas melhores serão desejadas e conquistadas, se deixar para o final, alguém pode levar a melhor. Acreditem!

domingo, 24 de junho de 2007

O bode


A história do bode, quem contou foi meu irmão. Acho que é uma parábola árabe ou chinesa.
Falávamos sobre pessoas que nunca estão satisfeitas. Não aquelas que constroem novas metas constantemente, e são inovadoras. Mas aquelas que reclamam de tudo mesmo e querem sempre que alguém resolva suas carências.
Estão sempre pedindo, e quando são atendidas, querem outra coisa. Costumam aceitar com felicidade quando recebem algo, mas logo vão achando problemas ou dificuldades no que obtiveram. Outras têm tudo de bom e não valorizam, não enxergam a boa sorte.
Assim acontecia com os filhos de um lavrador. Eles ficavam em casa sem trabalhar, sentados na sala reclamando de como era ruim, como a sala era pequena, como era pouco iluminada e nada confortável. O pai então trouxe o bode do quintal e deixou amarrado na sala com os filhos, que passaram a reclamar muito do bode. Ele fedia, fazia as necessidades ali mesmo e ruminava o dia inteiro. Após alguns dias o homem propôs tirar o bode da sala para deixar todos felizes. Alegria geral, agora tudo estava bem.
Determinadas pessoas não vêem que a felicidade já está a seu lado. Eu também cometo esse erro. Mas ultimamente estou querendo espalhar uns bodes por aí.

O amor

Sempre fui romântica, lá no fundo, sem querer admitir. Dizia que não gostava de frescuras como flores e poemas, porque tinha medo de não receber jamais.
Acreditei sempre no amor como um sentimento único, que não acaba, que é solidário, que está associado ao carinho a amizade, ao bem do ser amado.
Acreditei em um amor pelo outro do jeito que ele é. Não naquele amor que pretende modificar, modelar para seu próprio prazer. Um amor sincero e tranqüilo, conversado e partilhado. Refúgio de todos os problemas, paraíso de todas as conquistas.
Imaginei que para esse amor nenhuma rotina seria veneno, nenhuma briga seria ferida.

Presumi que o tempo seria aliado na maturação dos pensamentos e atitudes, assim como no vinho.
Amor que faz poesia, beija a qualquer hora, faz declarações absurdas e tolas. Tem música, perfume, lugar favorito. Tem paixão, e ela aparece sempre para quebrar o ritmo tranqüilo de uma segunda-feira. E se faz namorado mesmo depois de anos e anos de casamento.
Acreditar no amor é o primeiro passo para amar e amar muito e sempre.
"... Por tudo que se tenha dito. Por mais que se tenha amado. Sempre haverá um ser aflito. Querendo ficar apaixonado.”

Não sei


É difícil dizer não sei. Ninguém gosta de parecer ignorante sobre qualquer assunto, do mais simples ao mais complicado. Mas todos gostam de opinar sobre qualquer coisa. Outros, nos acham entendidos em algum assunto e teimam em nos consultar a qualquer hora. Aconteceu comigo – no ônibus. Estava lendo Quintana e aquele sujeito nada simpático sentou ao meu lado e já foi puxando assunto.
- Trabalhas em que área?
- Química.
- É bom poder explicar esses assuntos polêmicos, dos adoçantes causarem câncer, dos agrotóxicos, da camada de ozônio, sabes?
- Não, não sei.
E já fui enfiando a cara no meu livro.
- Mario Quintana?
- Sim.
- Não gosto das poesias dele.
- Cada um tem seu gosto, mas deves ler mais um pouco. Quando leio um poema qualquer e não gosto, procuro ler outros poemas do mesmo autor, em outras oportunidades.
- Ele está sendo homenageado?
- Está. Em 2006 ele faria 100 anos, se estivesse vivo. Nasceu em 30 de julho de 1906.
- Mas ele nasceu em Porto Alegre?
- Não, foi em Alegrete.
- Tu gostas de poesia, estou vendo. Mas tu sabes tudo sobre ele?
- Não, não sei.
- Hã, está certo.
Disse ele, decepcionado.
- A Feira do Livro aqui em Porto Alegre é bem legal, não é?
- É sim, muito boa.
- Está em qual edição?
- Este ano será a de número cinqüenta e dois.
- Então é quin..
- Qüinquagésima segunda.
- Nossa, que difícil, tu deves estudar bastante português!
- Sim, estudo.
- Então sabes tudo?
- Não considero o bastante.
- Não ficas com vergonha de dizer não sei?
- Eu nada sei.
- Ahã! É Sócrates? Coisa de intelectual.
- Não, é Kid abelha. Uma composição da Paula Toller e do George Israel.
... Nada sei dessa vida
Vivo sem saber
Nunca soube, nada saberei
Sigo sem saber
... Sou errada, sou errante
Sempre na estrada
Sempre distante
Vou errando enquanto o tempo me deixar passar
Vou errando enquanto o tempo me deixar.
A música e a minha parada encerram o assunto.

domingo, 3 de junho de 2007

Não liguem para mim!


Imagine a cena: chego em casa, faço minhas tarefas e estou ali, de bobeira com a família, lendo ou assistindo TV, conversando. O telefone toca e eu atendo. É uma moça gentil, com sotaque diferente, de uma empresa de cartão de crédito. Ouço tudo, tento não ser mal-educada. Afinal, ela está trabalhando. Embora seja essa a quarta ligação da mesma empresa que eu recebo só esta semana.
Digo que não quero, que já tenho outro, que gosto do outro. Ela quer saber qual, quer saber qual meu limite. É invasão de privacidade mas eu respondo. Ela diz que o dela é melhor, digo que não tem problema, gosto do meu. Não adianta. Ela diz que vou estar recebendo o cartão em casa e se eu não quiser usar, não desbloqueio.
Explico novamente, não quero receber nada. Se eu quiser, vou ligar e pedir um para mim.
Ela não acredita.
Peço licença e vou desligando.
No dia seguinte falo com meus amigos. Com eles acontece exatamente a mesma coisa. As respostas são variadas. Alguns escutam tudo e dizem não, ainda que não resolva. Outros batem logo o telefone na cara. Tem aqueles que recorrem aos palavrões. Em todos os casos, elas ou eles, ligam novamente.
Houve até um caso de um sujeito que teve uma conta aberta em determinado banco sem nunca ter pisado na agência, depois ficou sabendo que tinha uma dívida e que teria que ir até o banco se quisesse encerar a maldita conta sem ser processado.
Resolvi então ligar para a empresa que atormenta. Liguei, atendeu uma gravação, optei várias vezes por números aparentemente corretos. Falei com um atendente – viva!
Expliquei tudo, que não queria nada. Ou melhor, quero que parem de ligar para mim. Ela, com a maior naturalidade, disse que eu deveria ligar mais tarde pois no momento, o sistema estava fora do ar.
Não é lindo?
Pois agora, já ensaiei a resposta. Quando uma outra ligar – é sempre uma outra pessoa, diferente daquela que já falou comigo. Vou dizer:
- Querida (o) não posso aceitar seu cartão pois o sistema de vocês tem uma falha.
Ela (e) vai perguntar:
- Senhora, qual seria a falha?
E eu digo triunfante:
- Não tem registro arquivado. Não grava as preferências e opiniões dos possíveis clientes. Portanto, não é confiável.
Ou digo que me sistema está fora do ar.
Espero que resolva. Ou quem sabe, se estas pessoas acessam a internet, se lêem minha coluna, posso mandar um recado:
Não liguem para mim!!!!!

Não digo mais que não tenho tempo

Tempos modernos, todos correndo sempre. Ninguém consegue fazer tudo o que quer no tempo que dispõem. E cada vez quer fazer mais e ganhar mais e saber mais.
Mas isso faz com que a maioria das pessoas não tenha tempo para qualquer atividade fora da sua rotina, para lazer, para família, para ficar de bobeira. Para dar atenção a um amigo, conversar.
Algumas dizem que estão ocupadas sempre e interpretam um personagem chato, apressado, turbulento. Que faz várias atividades ao mesmo tempo, está quase sempre telefonando ou recebendo chamadas e não consegue manter o olhar nos olhos do seu interlocutor.
Acho que estão doentes, com uma síndrome.
Existem tantas síndromes! Da apnéia obstrutiva do sono (SAOS), do intestino irritável (SII), síndrome de Tourette (ST), que se caracteriza por tiques ou por vocalizações que ocorrem repetidamente.
Inventei a síndrome do sem tempo, que deve ser a síndrome de parecer ou acreditar que se está sempre ocupado (SST).
A SST causa ataque cardíaco, elevação da pressão arterial, perda de amizades, antipatia. E o mais grave – absorve a vida do doente de tal forma que chegará um dia em que ele terá certeza de que não viveu, só ficou ocupado.
Querer alcançar os objetivos em curto prazo e trabalhar cada vez mais pode tornar-se um vício. Um ritmo extenuante, como um atleta em busca da superação.
Porém, até os atletas, pensam na diversão, na família. Agora mesmo, nos jogos de inverno da Olimpíada de Turim, assisti vários atletas declarando que na hora da prova concentravam-se no trajeto planejado e aproveitavam a alegria de estarem nos jogos.
Isabel Clark, que dia 17 conquistou a nona colocação na prova de boardercross, o melhor resultado brasileiro em todas os jogos de inverno, mostrou sua alegria em estar com a torcida da família e dos amigos.
Não tenho a menor dúvida de que não posso fazer tudo que desejo no tempo que tenho. Mas tenho certeza que o mais importante é oferecer meu tempo para as pessoas que amo. Para mim também, é certo. E mesmo que esteja atarefada, não permito que isso, estar ocupada, seja o mais importante.
Tempo a gente sempre tem, é só saber usar.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Namore, não fique

Hoje eu vou fazer propaganda do namoro. Namorar é muito melhor do que ficar simplesmente.
Já sei, você está pensando que eu já passei dos quarenta e nem sei o que é ficar. Bobagem, tem muito quarentão que fica, e além do mais é só pesquisar, falar com as pessoas, para saber o que é que está rolando.
Em primeiro lugar não vá na conversa dos que dizem que namorar está fora de moda, a moda é a gente que faz. Também não se curve às pressões da turma. Eles querem que você fique, dizem que todo mundo já ficou, mas isso nem sempre é verdade. É natural do ser humano ralar com o próximo. Quando estamos solteiros todos querem nos casar, dizem que é melhor. Depois pressionam para que venha o primeiro filho. Aí filho único é ruim, precisamos ter outros. Resumindo, é tudo conversa, cada um sabe o que é melhor para si.
Exatamente, eu estou só defendendo o namoro, mas a decisão é toda sua. Pondere, aprecie.
Ficar não tem compromisso, mas compromisso é tudo. Mostra responsabilidade, comprometimento, personalidade. Não ter limites ou regras é superficial. Pode ter intimidade sexual mas não tem nenhuma intimidade emocional.
Namorar é ter um parceiro que goste de você, que divida suas ansiedades e segredos, que tenha opiniões para compartilhar.
Tem a expectativa de durar para sempre, de virar casamento, ser eterno. Ou pelo menos tem a graça do querer, do futuro.
Ficar não tem futuro, está fadado a acabar.
Qual a graça de beijar um monte de gente em uma festa? Será que isso acrescenta alguma coisa além de bactérias? Beijar é fácil de aprender, não precisa faculdade. Beijar com amor, com vontade, com desejo de dias só de paquera, é muito melhor.
E o dia dos namorados? É uma delícia. Casais por aí trocando abraços, beijos, presentes. Mandando torpedos, escrevendo coisas melosas. É um dia programado para o amor.
Namoro pode ser para sempre, mesmo depois de casados nós podemos namorar, mandar mensagens, fazer poesia.
Os ficantes não sabem quase nada um do outro. Não sabem a música preferida, não conhecem a família, nem as manias, qualidades e defeitos.
E dia dos ficantes? Tem?
Percebeu? Namorar é muito melhor.

Na verdade, tá ligado


No meu laboratório doméstico fiquei analisando o vocabulário do meu filho de doze anos e sua tribo. Tem um dos índios que em cada frase coloca no mínimo dois: tá ligado. Tem também o tipo assim, direto, man, ô meu.
Sei que quando jovens usamos muitas gírias, roupas parecidas, gostamos do que nossos amigos gostam. É legal, dá segurança.
Mas além das limitações da escrita que o MSN permite e eu não dou conta de corrigir agora mais a comunicação oral para atormentar.
Não resisti, chamei o amigo para uma conversa.
- Mateus, não quero interferir no teu modo de ser, aprovo que tenhas amizade com meu filho, mas não achas que usas muito, tá ligado?
- Pois olha Ana, tá ligado, eu nem me dou conta, tá ligado.
Bom, a conversa aprofundou e os “tá ligado” até diminuíram.
Ele provou ser bom na argumentação, e que está bem no colégio. Ele acredita que os adultos também usam suas gírias e enchem a paciência repetindo-as até na TV. Referindo-se ao “na verdade”. Expliquei que “na verdade” não é gíria, é uma locução adverbial que quer dizer "realmente, certamente, de certo, por certo". Já usada há muito tempo. Machado de Assis já usou no romance D. Casmurro: “Na verdade, Capitu ia crescendo às carreiras”. E no conto Uns braços: “Na verdade, eram belos e cheios, em harmonia com a dona, que era antes grossa do que fina, e não perdiam a cor nem a maciez por viverem ao ar;”.
Muitos outros autores já usam há muito tempo.
Agora está na moda, os repórteres usam nas entrevistas da TV. É usado em diálogos informais e discursos acadêmicos. Os políticos usam muito. O que para alguns se faz necessário, pois existe também o “na mentira”.
Concordamos finalmente que tudo que é demais atrapalha, e que falar e escrever corretamente requer estudo diário. Cometer erros não deve ser motivo para desistir ou ficar acanhado. Corrigir com educação contribui mas usar o conhecimento para constranger está completamente por fora, é preconceito lingüístico.

MORFOLOGIA E SINTAXE

amor gramatical,
ele interrogação
ela ponto final

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Ler e escrever, pura terapia


Acho que ninguém mais duvida que ler e escrever faz bem. Acalma, ocupa o tempo de maneira criativa, fornece assunto para boas conversas. Escrever ensina a organizar as idéias, descarregar as angústias e ansiedades. Ajuda a pensar de maneira mais coerente e organizada.
Costumo ler uma poesia, buscada ao acaso entre meus poetas favoritos, quando estou angustiada ou querendo escrever e não consigo. Quem sempre me ajuda? Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Mario Quintana, Cecília Meireles.
Moacyr Scliar, no livro O olhar médico – crônicas de medicina e saúde, fala sobre a escrita como terapia. Cita a Associação Nacional para a Terapia pela Poesia (NAPT) que existe nos Estados Unidos desde 1981.
A NAPT confere credenciais profissionais a terapeutas treinados em trabalhar com a poesia, é um diploma em biblioterapia. Esse terapeuta tem fundamentação em psicologia, literatura e em dinâmica de grupo. Como terapeutas de poesia, eles usam todas as formas de literatura e estão unidos pelo amor da palavra, e sua paixão por melhorar as vidas de outros e deles mesmos.
Na prática o trabalho funciona a partir da leitura de um poema e do acompanhamento pelo terapeuta das reações emocionais do paciente frente ao texto. E através da análise e discussão dos escritos dos pacientes.
Essa terapia serve não só para curar mas também para proporcionar crescimento pessoal e melhorar o relacionamento com os outros.
Como escrever é fácil, quase de graça, receito a todos. Como poesia, crônica, em forma de diário, em doses homeopáticas ou grandes dosagens mesmo.
Se você considera-se sem qualquer habilidade comece escrevendo inspirado em algum poeta. Siga o conselho de Carlito Azevedo, que em sua oficina de poesias propõe aos alunos que escrevam a partir de um poema de um autor consagrado.
Ele diz: “Os poetas nascem uns dos outros, do casulo de um sai a borboleta de outro”.
Publicando na internet podemos ainda fazer amigos, encontrar pessoas que pensam como a gente, compartilhar.

poesia

revelar a alma
de um poeta prisioneiro,
é teu destino derradeiro

Gentileza é essencial


Uma amiga usou essa frase no MSN. Também acho, gentileza é tudo de bom.
Que surpresa quando somos atendidos com carinho naquela ligação que caiu em algum número por engano:
- Não, não mora ninguém aqui com esse nome. Qual o número que você discou? Aqui é ...
- Desculpe, foi engano!
- Não tem problema nenhum não, isso acontece.
Quando alguém cede seu lugar na fila, seu acento no ônibus. Diz obrigado, cumprimenta, saúda.
Ou quando vamos fazer uma troca em uma loja, já desconfiados, prontos para apresentar a nota e exigir nossos direitos. A vendedora atende com aquele sorriso enorme e fala:
- Tudo bem, trocaremos agora mesmo.
Os colegas no trabalho também nos apanham de improviso. Muitos são elegância em pessoa, educados, prestativos, se estão de mau humor até saem de perto. Outros no entanto não perdem a oportunidade de pisar em um ou dois a cada dia.
A falta de garbo está em toda parte. Manifesta-se em uma piadinha preconceituosa, uma crise de arrogância, em grosserias gratuitas.
Isso me fez lembrar da história do Profeta Gentileza, um homem que andava de túnica e estandarte na mão entre o Caju e a Rodoviária Novo Rio no Rio de Janeiro. Ele registrava suas mensagens nas pilastras do Viaduto do Caju. Ele escreveu: gentileza gera gentileza. Entre outras frases simples mas muito sábias.
O verdadeiro nome do profeta era José Datrino. Ele começou a pregar essas mensagens em 1961 após um incêndio que destruiu um circo em Niterói. O acidente matou inúmeras pessoas marcando tão profundamente José que o fez abandonar o trabalho a mulher e os filhos. O Profeta Gentileza morreu em 1996, com 79 anos.
Mas a cortesia tem tudo para sobreviver. Gestos fraternos são um hábito que podemos começar praticando agora, e seguir pela vida toda.
Donaire!

sábado, 26 de maio de 2007

Folhas da vida

Não lembro do meu aniversário de quatorze anos. Lembro dos quinze porque teve reunião dançante, bolo em forma de leque, anel de brilhante e viagem.
Pensar na minha adolescência faz lembrar de espinhas, muitas espinhas, de poesias sobre a vida e sobre o amor, que eu lia e escrevia sem parar.
Não namorei muito, é verdade, culpa da minha altura, combinada com meu nariz e meus cabelos. Mas tinha mais amigos do que amigas. Graças ao meu bom humor e discrição.
Achava muito legal ser guri. Essa coisa de ser bonito ao natural me fascinava. Não pintavam as unhas, nem arrumavam ou domavam os cabelos. Espinhas? Azar.
De calças compridas e tênis sem ter que sentar direto. Subir em árvore, cuspir no chão, mascar chiclete descaradamente.
Mais legal ainda era ser guria e fazer tudo isso.
Em plena festa largávamos tudo e íamos jogar bola no pátio. Imagina se de unhas compridas e salto alto isso seria possível.
Depois dos quinze não deu mais. As pessoas cobram, reclamam, condenam. Meninas não podem andar misturadas com os meninos. Intrigam a cabeça dos guris que passam a olhar as gurias de um modo diferente.
Fazer o quê? Tricô, bordado, cozinhar. Tem sua utilidade, pratico até hoje, quando meu guri faz quatorze anos.
Está bem mais alto do que eu, o que é bem fácil. Esperto, inteligente, e não é por ser meu filho, o boletim do colégio confirma.
Um verdadeiro cavalheiro. Carregas as sacolas, abre a porta para mim, oferece ajuda. Abre também garrafas de refrigerante e vidros de pepino. Mas não abaixa a tampa do vaso, nem repõe o papel higiênico. Um verdadeiro representante da espécie dominante na minha casa.
Entre os presentes, ganhou um barbeador, pois já tem barba o guri, tem também idéias próprias e argumentos.
Como é que a gente não vai ficar velha. E assim, vamos escrevendo páginas e páginas nas folhas da vida.

Felicidade não tem precisão de luxo


Depois dos quarenta anos a gente adora relembrar. São as músicas que dançávamos, as roupas da moda, os filmes que assistimos juntos, os brinquedos e tudo mais.
No meu tempo era assim! Frase que corrijo sempre, pois meu tempo, nosso tempo, é agora. E será nosso tempo enquanto estivermos vivos, ativos, querendo mais e melhor.
Meus amigos, assim como eu, vieram na maioria da quase extinta classe média baixa. Estudamos em escolas públicas. Levávamos merendas de casa, que eram muito parecidas: pão com banana, pão com margarina e mortadela, pão com doce de leite. Naquela época, da nossa infância, nossas mães cozinhavam. Faziam pães, doces, comidas, cujo sabor trazemos na memória até hoje.
Refrigerantes só em festas, e filé só depois de adulto e trabalhando.
Mas nossos filhos, estamos criando com o bom e o melhor. Estudam em escolas particulares, usam roupas da moda, fazem curso de inglês, atividade física, têm o melhor computador, mp3, DVD. Só comem filé.
Para isso, fazemos um grande esforço. Agora os casais trabalham, as mães não cozinham tanto. Ansiamos por prepará-los bem, pois o mundo modernizou-se rapidamente e a competição é muito grande.
Talvez algumas atitudes possam nos trazer arrependimentos futuros. Tantos jovens estão usando drogas, a violência cresce assustadoramente. Nossa parcela de culpa será dada pela falsa visão do mundo que passamos aos nossos filhos? Um mundo onde todos os seus desejos são atendidos, onde alguém trabalha para seu conforto e tranqüilidade. Onde só existe fartura e felicidade.
O choque com a realidade pode ser muito duro.
Tenho confiança de que isso não aconteça. Que fique também na memória as coisas boas que fizemos juntos. Os valores da família, a ética, a bondade.
As festas que fazemos no quintal de casa, onde cada um trás alguma coisa. A vontade de todos de partilhar.
Na comemoração dos oitenta e quatro anos do meu pai foi assim. Quis justificar para ele que todos estavam voltando de férias, pagamos impostos e materiais escolares, o dinheiro anda curto. Por isso não fizemos uma festa melhor.
Ele disse o que espero sirva de lição para o meu filho e outros filhos da nossa geração:
- Felicidade não tem precisão de luxo.

Fazendo bolo


Eu adoro fazer bolo!
Aquele da massa, com ovos, farinha, leite e fermento. Se bem que aquele que significa rolo e confusão também tem seu valor. Gosto mesmo de cozinhar. Comidas de todo o dia, arroz, feijão, bife e tudo mais. Acho que o aroma e as cores dos alimentos despertam emoções e lembranças, pois usamos todos os sentidos para percebê-los e manuseá-los. Creio que é como escrever um texto ou um poema. Vem primeiro a idéia, o sentimento, sob a forma de ingredientes. Depois a escolha das palavras, o tempero, e misturamos tudo, cozinhamos. Lemos e relemos, curtindo o aroma e o sabor, em uma prova na palma da mão.
Decoramos o prato, imprimimos. Depois servimos para uma ou mais pessoas, pode ser um banquete, um livro.
Os alimentos e as palavras - são vida. Reúnem pessoas com gostos parecidos, despertam a curiosidade. Em volta da mesa ouvimos o que os outros têm para contar e contamos também. Lugares diferentes têm sabores e autores distintos.
Os alimentos simples como as frutas, o feijão e o arroz trazem a idéia de simplicidade, de trabalho. Para mim são alimentos da infância, junto com os biscoitos e o bolo.
Cozinho praticamente todos os dias e quase todos os sábados faço um bolo. O bolo leva a energia das mãos que misturam a massa e logo espalha um aroma quente pela casa. Como palavras, convidam, chamam a família para a mesa. Pode até ser de pacotinho mesmo, funciona igual, é só testar para ver.
Pode ser um pão-de-ló que derrete na boca, como um poema do Mario Quintana. “Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês.”
Talvez de cenoura, com cobertura de chocolate, que eu misturo lendo Cecília Meireles. “Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.”
Sim, adoro ler poesia na cozinha, naqueles momentos de espera, em que o caldo do feijão engrossa, ou o molho rouba o sabor da carne, ou o bolo cresce.
O bolo que pode ser de café, para comer em prato todo branco acompanhado de licor e de Drumond. “Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?”
Os bolos são como as pessoas. Cada um com seu sabor, seu recheio ou cobertura. No decorrer da vida aprimoram a mistura, cozinham no fogo suas dificuldades, fazem seu fermento agir. Crescem e transformam-se em pessoas melhores.
Ou simplesmente abatumam.

Eu não odeio segunda-feira!


Muitas pessoas odeiam segundas-feiras. Tem até algumas comunidades no ORKUT.
Tenho uma amiga que odeia. Domingo à noite já começa a passar mal. Fica irritada, maldizendo o amanhã. Ela fez até terapia por causa disso. E chegou a algumas conclusões. Por ter trabalhado alguns anos em um lugar onde a equipe era muito chata, detestava o primeiro dia de trabalho da semana. Depois ia passando.
Entre outras conclusões mais particulares que não devo revelar.
Uma vez propus a ela um exercício de auto-sugestão. Disse a ela que no domingo deveria se divertir e aproveitar o dia, não seguir a rotina que vinha seguindo nos últimos meses. Nada de pensar em segunda e sim fazer de conta que o outro dia seria terça-feira. Expliquei que pratico auto-sugestão quando tenho dor de cabeça. Faço de conta que tomo, mas não tomo um analgésico. Imagino a cena, concentro-me nela. Muitas vezes passa. Acho que nesses casos era só tensão mesmo.
Convencida, ela colocou em prática minha idéia. Funcionou, é claro. Porque simplesmente ela parou de pensar no lado negativo.
Só teve um problema, ela levou tão a sério que esqueceu uma reunião da diretoria marcada para segunda-feira. Ficou de mal comigo, imaginem!
Bom, eu não tenho problema nenhum com os dias da semana.
Adoro segundas-feiras, mais ainda porque estou no SORTIMENTOS.COM com uma nova crônica sempre às segundas.
Que não seja este um motivo para que vocês as odeiem!

Eu digo, e você?


Digo sempre “Eu te amo”.
Para meu marido, meu filho, meus pais, minha sobrinha. Sempre fui carinhosa com minha família, o que é recíproco. Quando telefono para meu pai ele não deixa de dizer o quanto ficou feliz e como sou querida e amada. E não é da boca para fora, é de verdade, de coração. Meu guri costuma dar um beijo de boa-noite acompanhado muitas vezes de “Mãe, eu te amo muito”. Com o pai dele é igual. Muitas vezes estou no trabalho e ligo para saber como ele está, se foi bem na prova, ele termina a conversa com um bom beijo e um “Eu te amo”.
Uma dessas nossas conversas despertou a curiosidade dos meus amigos e a minha também. Começamos um estudo para saber quem dizia “Eu te amo”, para quem, e o que achava disso. Muito interessante, pois várias pessoas têm dificuldade para dizer que amam. Até para os maridos ou namorados, muito mais para os pais.
Outros consideram “Eu te amo” muito importante para estar usando toda hora. Como se amor gastasse ou pudesse correr o risco de se tornar banal.
Acho que é mais fácil a gente se arrepender por não ter confessado um sentimento do que pelo atrevimento de fazê-lo. Eu digo sempre o que sinto hoje, posso não ter a oportunidade de dizer amanhã. Causa constrangimento para algumas pessoas, mas também essas pessoas nem sabem abraçar ou beijar.
Aqui no Rio Grande do Sul, mesmo com fama de machistas, os homens abraçam e beijam seus pais, irmãos, tios. Claro que tem também os que criam seus filhos proibindo-os até de chorar, pois acreditam que homem não chora.
Na semana passada, fui até a escola do meu filho, conversar com a orientadora educacional. Ele está bem, tira notas boas, mas é muito folgado. Poderia usar melhor o potencial que tem. E não é muito incentivado na escola. Porque as escolas são como as famílias, preocupam-se com quem tem algum problema. Quem é quieto e faz a sua parte, passa despercebido. Não concordo com isso. Assim seremos um país onde mais ou menos está bom. Devemos melhorar sempre. Nada de estresse ou cobranças, mas incentivo.
O que isso tem a ver com “Eu te amo”? Perguntei para ele se sabia por que eu estava indo conversar com a professora dele. Ele disse:
_ Mãe, tu não vai fazer meus professores ficarem pegando no meu pé. Brincadeira, eu sei que vocês, tu e o pai, me amam, por isso têm interesse por mim.
É isso mesmo, “Eu te amo” tem muitas formas, além das palavras.

“O homem não morre quando deixa de viver, mas quando deixa de
amar”. (Chaplin)

Epitáfio (Copa 2006)


Ninguém gosta de perder. É triste. Uns choram, outros ficam paralisados. A torcida silencia.
Por quê? Como explicar um fracasso?
Há os que sempre souberam e os que tinham fé.
E chega a hora de apontar os culpados, crucificar os responsáveis. Desabafar em cima das desculpas e justificar.
Talvez pensar em outra coisa, o que será mais fácil depois que tudo terminar - nove de julho.
Tocar a vida para frente.
Tivemos um domingo de ressaca, com ares de luto e uma segunda-feira que será de recomeço. Afinal foi só um jogo, o mundo continua, cheio de problemas para resolver.
Alguém comentou que ouviu em um programa da televisão, que os jogadores da Seleção Brasileira teriam escolhido como música tema - Epitáfio dos Titãs. Se for uma piada, até que caiu bem.
Eles já sabiam que seriam derrotados, e mesmo assim não entenderam a letra. Pensaram em dizer que deviam ter batalhado mais, lutado mais. Arriscado mais e acertado mais. Certamente o acaso não os protegeu enquanto eles estavam distraídos.
Faltou atitude, competência e sei lá o que mais rola nos bastidores.
Para os torcedores tristes, inclusive para mim, digo que devemos centralizar nossos motivos de felicidade em coisas que dependam de nós. Construir alegrias, com atitudes simples e diárias, preenche a vida de quem faz e de quem recebe. A felicidade está sempre perto e vencer é uma conquista particular.
Uma frase da música dos Titãs serve bem para o momento: “A cada um cabe a alegria e a tristeza que vier”. Não dê mais importância às coisas do que elas realmente têm. Dê importância a Campanha contra o racismo: “Nós rejeitamos o racismo ou qualquer forma de discriminação, seja dentro ou fora dos jogos. Com o poder do futebol, podemos ajudar a erradicar o racismo do nosso esporte e do resto da sociedade”.

Em briga de marido e mulher


No dia 7 de agosto de 2006, foi sancionada a lei N.º 1.340, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
Esta lei recebeu o nome de "lei Maria da Penha" como forma de homenagear a mulher, Maria da Penha Fernandes, símbolo da luta contra a violência familiar e doméstica. Maria sofreu duas tentativas de homicídio por parte do ex-marido. Primeiro, levou um tiro enquanto dormia e ficou paraplégica, sendo que o agressor alegou que houve uma tentativa de roubo. Duas semanas depois de regressar do hospital, ainda durante o período de recuperação, sofreu um segundo atentado contra sua vida: seu ex-marido, sabendo de sua condição, tentou eletrocutá-la enquanto se banhava. A punição do agressor só se deu 19 anos e 6 meses após o ocorrido.
Mais ainda, no seu artigo 5º, a Lei contém uma carga ideológica inovadora, por permitir uma interpretação de reconhecimento da entidade familiar entre pessoas do mesmo sexo. A união homo afetiva.
É uma vitória contra o preconceito, a violência, a raiva descontrolada.
Esta semana li muito sobre a raiva, sobre o impulso descontrolado de algumas pessoas e como os raivosos são tratados. Na maioria das situações, por medo, as pessoas acabam acatando as decisões do mais violento. Daquele que grita, esbraveja, vocifera.
No trabalho é assim também. Por educação, por medo, ou outro motivo, algumas pessoas calam-se perante o ódio do chefe ou de algum colega. Os raivosos acabam ocupando posições melhores porque estas atitudes são consideradas de liderança. É muito mais comum ver respeitado um colega que grita do que alguém que é dócil e passivo.
Na família é a mesma coisa. A mulher e os filhos temem o marido e calam, obedecem. Se ele parte para a agressão física e não é denunciado isto pode se repetir por anos. Claro que as mulheres também podem ser violentas, mas as estatísticas provam que os homens são muito mais.
O que gera essa raiva incontrolada? Muitas causas. A falta de controle pode ser criada por insatisfação pessoal, por dificuldade para expressar sentimentos, por doença. Mas tem tratamento. Um pouco de raiva é importante, pois dá impulso, dá gana para enfrentar e reagir, desde que o limite exista.
Quando era adolescente eu presenciei uma cena de agressão na rua. Um homem, socando e batendo em uma mulher grávida. Tentei me aproximar mas ele virou para mim com os olhos arregalados e quase babando. Tive medo e fugi. Lembrei da minha mãe que dizia: “Em briga de marido e mulher, não se mete a colher”. Sinto arrependimento até hoje. E agora sei que violência nenhuma se justifica.
Em briga de marido e mulher, se mete a colher sim. A lei protege, basta denunciar.

Em 25 linhas


Conte sua vida em um minuto. Escreva sua biografia em vinte e cinco linhas. Diga o que pensa ou sente com duzentas palavras. É difícil! No início, depois a gente vai pegando prática.
Uma boa técnica é escrever em um espaço mais ou menos próximo ao objetivo e depois ir cortando aqui ou ali. A dificuldade é cortar sem tirar o sentido. Uma frase, uma palavra, pode ser fundamental para explicar o todo.
Para escrever em poucas linhas é preciso pensar no coração do texto, desenvolver a idéia dizendo o que é realmente importante. Trocar algumas palavras, procurar sinônimos. Assim faço com os poetrix, os minicontos e com as crônicas, na minha coluna em SORTIMENTOS.COM.
Ninguém pode ser sempre maravilhoso em poucas linhas, mas pode ser bom em vários conjuntos de escassas linhas aqui e ali. Acho até que é mais complicado sintetizar do que explicar muito a mesma coisa e ficar rodando em palavras vazias. Isso para os simples mortais. Outros escrevem muito bem, até sobre não escrever nada, sobre a falta total de idéias, e são magníficos.
Não basta ser conciso, mas preciso. E a precisão requer um bom vocabulário. Nem sempre palavras difíceis, pouco usadas, podem encantar o leitor. Há os que apreciam recorrer ao dicionário, aprender palavras novas. Mas a maioria dos leitores na internet prefere textos mais diretos. Aceite um desafio, tente dizer algo em 25 linhas.

E se...


Sempre pratico o “E se...”, desde criança. É uma maneira de pensar em outras possibilidades, em outras soluções para os problemas. Fica mais fácil de ver outras alternativas, plano A, plano B, e mais outros tantos quantos você puder imaginar. Não me transformei num gênio por causa disso mas acho que tenho muita imaginação.
Gosto de ler sobre criatividade e assim descobri o Projeto Saber no site da Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Descobri um pequeno Manual para o Pensamento Criativo, o autor é Luiz Carlos Martins que é profissional da área de Educação há mais de 25 anos, tendo publicado mais de 20 livros sobre Pesquisa da Criatividade. É fundador da Câmara Brasileira de Jovens Escritores, instituição de incentivo à prática literária entre os jovens e divulgação de novos autores.
Segundo Luiz Carlos Martins, muitos homens assim como Einstein, Thomas Edison e Gandhi, na infância foram considerados limitados. Mas eles superaram as expectativas e tornaram-se brilhantes. Em função da sua capacidade criativa. Sua forma de usar a inteligência.
Aprendi que a inteligência é a capacidade do cérebro de organizar informações e a criatividade a forma como a usamos. Diante das dificuldades nós pesquisamos uma maneira para resolvê-las. Quando as opções mais lógicas não funcionam lançamos mão do pensamento criativo. É a hora em que a mente oferece uma idéia original. É o chamado pensamento lateral, tentar de novo em outro lugar.
Vejam só, a chave para pensar lateralmente é usar a expressão “e se ...” . Adorei isso! Claro, é apenas o primeiro passo.
Também não basta ser criativo, temos que dar base para a imaginação, estudar, ler muito. E também não dá para dizer que nos tornaremos gênios do dia para a noite mas podemos fazer nossa vida mais fácil, mais alegre. Incentivar nossos filhos a pensarem diferente.
Acho que a criatividade está ligada também a sair da rotina, experimentar olhares diferentes, mudar o trajeto, provar outros temperos, conversar com pessoas diferentes, trocar idéias. Fazer palavras cruzadas, brincar. Jogos são bons para incentivar novas estratégias. Uma boa brincadeira é associar palavras livremente. Brinco desta brincadeira com meu filho, nós inventamos novas regras a toda hora, só pode ser verbo, só pode estar na mesma cena, só pode terminar em alguma sílaba. É impressionante o número de palavras e imagens que aparecem.
Meu conselho é de graça, seja criativo, não custa nada e torna a vida mais interessante. A frase é do Pablo Picasso: Eu não pinto as coisas como as vejo, mas sim como as penso.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

E o tempo passa


Logo que retornei das férias já ouvi as pessoas dizendo que depois das férias o tempo passa voando. Quando percebemos já é fim do ano. Continuou assim, elas dizendo que depois de agosto sim o ano já termina, que o Natal já está aí. Isto me dá certa inquietação, irritação até. Eu estou ali tranqüila, curtindo meu dia e alguém vem dizer que ele vai acabar, e outros vão passar sem que eu aproveite. Minha resposta, é que não é nada disso, afinal, em um segundo a vida gente pode virar de pernas para o ar. E os caminhos serão outros, talvez bem mais longos.
Alguns me respondem com a Teoria da Ressonância de Schumam, um físico alemão que constatou que a Terra é cercada por um campo eletromagnético muito forte, que possui uma ressonância mais ou menos constante. Esta freqüência também afetaria o cérebro humano. Por milhares de anos a freqüência permaneceu constante, mas na década de 80 e 90 passou de 7,38 para 13 Hertz por segundo. Como conseqüências ocorreriam os desequilíbrios ambientais, climáticos, os conflitos, as alterações de comportamento. Esta alteração faria com que a jornada de 24h da Terra ficasse em 16h. E a sensação de que o tempo passa mais rápido. Será?
Para Christian Barbosa, autor de A tríade do tempo, o desenvolvimento tecnológico nos impõe a obrigação de cumprir tarefas em menor tempo e com mais agilidade.
As pessoas sentem que trabalham contra o relógio. Segundo ele, as atividades diárias – profissionais ou não – se agrupam em três esferas: a da circunstância, a da urgência e a da importância. Elas são um tipo de santíssima trindade que, juntas, tomam todo o nosso tempo. Circunstanciais são as tarefas feitas sem vontade, só para não pegar mal para o chefe ou algum amigo. Urgentes são as que surgem no decorrer do dia e que têm de ser realizadas na hora. As importantes dão a boa sensação de dever cumprido. A medida ideal é dividir seu tempo com 70% de tarefas importantes, 20% de urgentes e 10% de circunstanciais. (Fonte: IstoÉ online).
Acho que é mais ou menos por aí. Temos que trabalhar, fazer determinadas atividades. Algumas delas podem ser realizadas com prazer, embora façam parte da rotina. Como exemplo, levar as crianças ao colégio. Para rechear o dia, precisamos de satisfação e alegria. Uma dose de leitura, uma boa música, uma atividade física. Ou o simples fato de estarmos vivos. Como resultado, vamos curtir cada momento do dia com toda a importância que ele tem e o tempo passará em seu ritmo normal.

“O tempo que eu hei sonhadoQuantos anos foi de vida!Ah, quanto do meu passadoFoi só a vida mentidaDe um futuro imaginado!”
Fernando Pessoa, na poesia Andaime.

Doença de médico


Esta é a história de um amigo, mas muito parecida com uma que aconteceu comigo e com outro amigo também. E com um amigo deste amigo.
Todos nós temos Planos de Saúde. Quem pode viver sem eles?
Bem, nós não costumamos consultar, médicos, a não ser quando estritamente necessário. Quando procuramos, pedimos indicações, referências de outros amigos. Talvez para evitar constrangimentos, pois as secretárias sempre perguntam quem indicou. Acho que deve acontecer um tipo de jogo misterioso, uma aposta entre os médicos, como o “Top 10”, o paciente que mais indica.
Bem, estatisticamente comprovado nas nossas pesquisas:
80% dos pacientes não permaneceram mais de dez minutos com o médico.
100% saíram com requisições para novos exames.
90% dos médicos perguntaram “o que o trouxe aqui” ou “o que você está sentindo”, mas não deram a mínima para as respostas. Ou seja, acham ou parecem achar que os doentes só querem desabafar, são carentes, não têm nada grave. Pode ser.
Antigamente médico era para isso, observava, ouvia, conversava, auscultava, e receitava. Talvez seja o respeito ao tal juramento de Hipócrates, que acreditava que a arte da medicina estava em observar. Isto tudo sem ressonância magnética!
Sim, os tempos mudaram, é a tecnologia, e o papo acabou.
Os consultórios estão cheios, as doenças aumentaram e se multiplicam. Os médicos atrasam e a gente acaba conversando mesmo é com a secretária.
70% dos médicos indicam outros colegas, para atender outra área, outra queixa ou apenas para uma segunda opinião.
Bem, o amigo aquele, ficou sabendo que o médico que ele iria consultar era louco por futebol. Logo no início da consulta ele já entrou no assunto:
E o time ontem? Que jogão!
O doutor se empolgou, discursou por doze minutos, até que a secretária avisou que o próximo paciente já estava aguardando. Ele então levantou, estendeu a mão ao meu amigo, bateu nas costas dele e lascou:
- Bem, nos vemos na cirurgia, fique tranqüilo que a secretária vai agendar tudo.
E olha que não houve nem exame.
Não tenho nada contra os médicos, e sei que tem bons profissionais por aí.
Mas afirmo com certeza, alguns estão doentes.

Dia do trabalho


No dia 1º de maio de 1886, em Chicago, na época um grande centro industrial dos Estados Unidos, aconteceu uma greve geral. Os trabalhadores foram para as ruas protestar contra condições de trabalho desumanas e exigir redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias.
Foram muitas manifestações e a repressão foi dura, com prisões, confrontos violentos e mortes.
Em 1889, um Congresso Socialista, em Paris, escolheu o dia 1º de maio para homenagear a luta dos trabalhadores pelos seus direitos.
Não vou discutir diferenças salariais ou falta de oportunidades de emprego. O dia do trabalho tem um significado diferente para todas as pessoas.
Cresci pensando em trabalhar, que eu não poderia viver sem um emprego digno, que precisava ser independente e que um dia deveria ajudar meus pais.
Observei desde cedo meu pai, que não faltava nem se atrasava nunca. Que queria ganhar mais e proporcionar uma vida melhor para sua família. Embora minhas amigas da mesma idade tenham sido criadas para um dia casar e talvez parar de trabalhar quando tivessem filhos, não recebi essa orientação. Fui instruída a trabalhar sempre.
Assim, faço parte de uma geração onde as mães trabalham e deixam seus filhos em creches.
Como muitas mulheres, exerço uma dupla jornada de trabalho. Acho que as mulheres trabalham muito, pois as mudanças nas atividades profissionais não foram acompanhadas completamente pelos homens.
Que já respeitam as mulheres em trabalhos que antes eram só masculinos, mas nem sempre dividem com elas as tarefas domésticas e a educação dos filhos. Isto, é claro, está mudando.
A importância do trabalho na minha vida e tenho certeza, é também na de muitas outras pessoas, está relacionada com o prazer que ele me proporciona. Não faço exatamente o que gostaria de fazer, nem ganho o salário que desejo, mas faço por opção. E essa consciência faz com que eu use de responsabilidade, criatividade e empenho na execução das minhas atividades diárias.
Isto, talvez não seja a tão falada realização profissional. Seja apenas uma maneira de encarar a vida. Poderia ter seguido em outra profissão e acredito que desempenharia minhas atividades com a mesma satisfação.
Através do trabalho fiz grandes amizades, pessoas que compartilham sempre das minhas conquistas pessoais, das minhas alegrias e dos meus problemas. Consegui ter uma vida confortável.
Vinte e cinco anos no mesmo emprego, é um tempo considerável, e sem inimigos, é uma vitória.

Dia do escritor


Em 25 de julho de 1960 aconteceu o I Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira de Escritores, que tinha como presidente José Peregrino e como vice Jorge Amado.
Como foi um sucesso, um decreto do governo consagrou o dia 25 de julho como o Dia Nacional do Escritor.
Sinto o maior orgulho por ter nascido no dia 25 de julho de 1961. O que não me confere nenhum talento especial, mas tomo esse dia como meu.
E se você gosta de escrever, tem amor pela palavra, é seu também.
Não fique pensando que só quando tiver publicado um livro poderá ser chamado de escritor.
Muitos escritores publicam muito na internet antes de ter seu primeiro livro em papel. A internet é uma ótima ferramenta para divulgar, conhecer outras pessoas que têm os mesmos interesses, participar de concursos. O custo é baixo e seus textos andarão longe em segundos.
O número de escritores na rede aumentou muito nos últimos anos. Alguns criticam a baixa qualidade dos textos publicados, dizendo que falta criatividade e bom português.
Talvez. Mas quem sabe, os bons escritores e críticos, devessem usar esse tempo para orientar, dar dicas, corrigir até, os que necessitam ajuda.
Tem espaço para todo mundo, não é elegante eliminar a “concorrência” censurando-a.
Além do mais, a internet é terra de jovens, que devem ser incentivados a ler, escrever, propagar suas idéias. Mudanças acontecem com projetos e conceitos novos.
Para escrever melhor é preciso praticar muito. É certo, deve-se atingir certa maturidade, desde que essa maturidade não acabe com ânsia, com a paixão. Aquela certeza de que, com nossos textos, podemos dizer tudo que alguém gostaria de dizer e não encontra palavras. De contar dos sentimentos mais loucos, de ter metáforas precisas para tudo que a natureza crie e tudo mais que alguém possa imaginar.
Um dia eu chego lá!
E que a inspiração propague-se, pelo menos até dia 4 de outubro, dia do poeta.
Bom, mas essa já é outra crônica.

Minicontando: Sessão de autógrafos
O livro todo custou um ano de trabalho árduo. Depois a editora, as correções, os valores elevados. Mas tinha a promessa de vender bem, o incentivo dos amigos, dos alunos, da família.
Dezoito horas e ele estava lá, pronto, no pavilhão de autógrafos. Mas os organizadores não lhe deram a mínima atenção. Arrumavam mesas para outros escritores, serviam água. Ele foi ficando triste, perdeu-se nos próprios pensamentos, realmente ele era um fracasso. Nem a própria família lembrou.
Assustou-se quando alguém tocou seu ombro:
- Sonhando acordado professor?
A fila era imensa, ele parado com a caneta na mão e o livro aberto na sua frente.
- Não, pensava em outro livro.

Dia da sogra


Dia vinte e oito de abril é o dia da sogra. Quem inventou? Sei lá, algum puxa-saco.
Acho que ódio pela sogra é algo difícil de resolver. Talvez não tenha solução. Pode vir do nada, no primeiro encontro, ao primeiro olhar. Pode também ter causa justa, vir com o tempo, elaborado e profundo.
Pobre daquele ser que começa a namorar alguém que teve um relacionamento anterior muito longo e marcante. Os parentes, incluindo a já falada, vão trocar seu nome, comparar com “o anterior”. Era mais quieto, gostava de lasanha, ou não gostava de lasanha. Sempre haverá comparações, positivas ou negativas.
E se não for isso, as esposas sempre serão confrontadas com as mães dos ditos cujos, no caso, a sogra.
A comida da mãe é melhor, ela faz um doce! Como costura bem, como tem paciência com as crianças!
É difícil de agüentar.
Só entendi isso realmente quando uma amiga me contou um causo que aconteceu com uma amiga da mãe dela, a Elisa.
Elisa casou cedo, com o Artur. Prendada. Cozinhava bem, ótima mãe e dona-de-casa. A única coisa que não acertava, era o feijão. Artur sempre dizia:
- Não tem igual ao feijão da mamãe.
Elisa experimentou de tudo. Deixava de molho com várias horas de antecedência, trocava a água. Mudou o tempero, com mais alho, cebola, costelinha de porco. Não suportando mais, pediu a receita à sogra, que triunfante ditou item por item, e acrescentou:
- Não tem nada de mais no meu feijão.
Elisa repetiu a receita mas não obteve êxito e nem agradou o marido.
Irritada, nervosa, um dia queimou o feijão. Serviu assim mesmo.
Artur comeu feliz e sorridente, repetiu, e sentenciou:
- Finalmente está igual ao da mamãe.
Para mim isso explica tudo. O amor que os filhos têm por suas mães, faz com que sejam incomparáveis.
Um bom relacionamento com a família do ser amado é importante, mas nem sempre ocorre facilmente.
Mas não desista, a sogra, assim como você, também pode ser uma ótima pessoa.

domingo, 20 de maio de 2007

De alma lavada


Estar em férias é também um estado de espírito, um círculo de excelência. Para aproveitar tem que saber relaxar, clicar no botão de desliga do trabalho.
Eu tenho prática e mesmo durante o ano, quando decido tirar um tempo par mim, uma tarde por exemplo, desligo mesmo.
Na volta das férias não lembro nem de meu número de telefone ou onde estão os objetos nos armários da minha casa. Não esqueço para sempre, à medida que vou precisando vou também liberando o acesso as informações arquivadas, de maneira automática.
Como felizmente não tenho grandes problemas, para os pequenos aviso: estou em férias. Não fico tentando resolver as crises do mundo nem querendo entender as pessoas.
Leio, escrevo, cozinho e compartilho minhas horas com pessoas que amo. Mas não preciso estar no Caribe ou em um bangalô master do Nannai Beach Resort. Santa Catarina é suficiente.
Na volta, alma lavada, estresse zerado, é hora de sonhar, desejar, fazer planos e executar os projetos iniciados na virada do ano, com aquela taça de espumante.
Sei que muitas pessoas não conseguem relaxar, provavelmente porque se sentem na obrigação de preencher o tempo livre com mil e uma atividades. Não é meu caso, cultivo o ócio, no período de férias.
Segundo um estudo publicado no Journal of Occupational Medicine, quem nunca tira férias ou não consegue se desligar do trabalho nos momentos de lazer tem 60% de chance de adoecer.
Não quero ficar doente, ninguém quer.
Então o melhor é não se preocupar em relaxar, mas relaxar simplesmente. Dividir as férias em dois períodos, para que não demore muito a chegar novamente. O celular vai, mas fica em casa, não vai até o mar, não toma chope, nem sai junto para caminhar.
Quanto ao trabalho, tenho certeza, ninguém é insubstituível.
E o fundo musical é a música dos Titãs.
...Quero a almaQuero a alma renovadaLavo a almaLavo e seco no varal...Alma lavada, alma lavada
Dessa vida não se leva nada

Ciúmes


Dizem que o ciúme é o tempero do amor. Como qualquer tempero deve ser usado na medida certa para não estragar tudo. Se for exagerado, só ele aparece.
Meu conselho é o seguinte – não sinta ciúmes de coisas que são a vida do outro. A profissão, a família, o modo de ser da pessoa amada. Isto levará ao rompimento, mais cedo ou mais tarde.
Alguns apreciam o ciúme, gostam de provocá-lo, instigá-lo. Não viveriam sem um parceiro que não fosse possessivo. Gostam de ser seguidos, vigiados.
A mulher do João é ciumenta. É uma fera em forma de gente. Quando ele chega em casa, ela examina o colarinho da camisa dele procurando vestígios de perfume ou manchas de batom. Vasculha os bolsos, procurando bilhetes, números de telefones, nomes de mulher.
Ele até gosta, mas teme.
A relação está no nível do pânico eu diria. Isto foi depois das férias. Ela estava de olho nele na praia. Proibia até o uso de óculos escuros, para poder vigiá-lo melhor.
Andava inquieta, como uma fera enjaulada que caminha de um lado para o outro, cheirando e olhando.
Lá pelo meio da semana mandou que ele fosse com os cunhados para o mar, ela ficaria em casa, arrumando tudo. Isto poderia acalmá-la.
A casa ainda estava fechada e a Sara lavava a louça do café quando um ladrão começou a roubar as roupas do varal. Ela gritou e mandou ele largar tudo. Mas ele não obedeceu, não valorizou sua opositora, decidiu correr.
Sara não admite ser desobedecida, correu também, pegou o ladrão e bateu nele.
Não bateu pouco, desabafou sua ira. O povo chamou o delegado que salvou o ladrão da megera.
O ladrão todo moído pedia:
- Doutor, só não diz que foi mulher, está certo?
O João ainda é apaixonado pela Sara, quando eu falo que ciúme é ruim, ele responde:
- Imagina se ela desafogasse em mim!
E eu digo:
- Ciúmes sempre acaba machucando alguém.

Calcinhas penduradas


Uma grande revolução na emancipação da mulher é a exposição da sua langeri. Minha mãe não pendurava roupa íntima nos varais que ficavam a vista no pátio.
Minha avó então, nem se fala, nunca vi suas roupas íntimas a não ser nas gavetas e não eram nada “sexy”.
Já a mulherada menina, pendura calcinha no banheiro, deixa sutiã jogado na cama, mostra a calcinha quando se abaixa e o sutiã quando levanta os braços, de blusinha bem curtinha.
A calcinha é uma metáfora para dizer que as mulheres estão decidindo, escolhendo, abrindo novos espaços sem pedir a ninguém.
Penduram suas idéias onde bem entendem.
Em trinta anos, as calcinhas, mudaram muito. A exigência de conforto, formas e cores é bem maior. A sedução está implícita. As mulheres mudaram também, trabalham, estudam, ocupam postos importantes. E ainda continuam mães, donas de casa, esposas.
Certamente ainda existirão muitas Marias da Penha e muitas outras serão beneficiadas com a lei criada para punir a violência e proteger as mulheres agredidas. Outras viverão sem trabalho digno, sem estudo e sem oportunidade.
Mas o mundo continuará mudando.
Os homens já estão diferentes, compartilham, trocam de papéis nas atividades domésticas.
E formam-se famílias mais solidárias, mais amorosas, com igualdade.
Desejo ver o tempo em que o Dia Internacional da Mulher será só uma lembrança, de uma época em que existiam diferenças, e as calcinhas ficavam escondidas.

Caiu na rede


Não vivo sem internet, mas também não morro se ficar longe dela. Que o provedor não me ouça!!! Até acho bom dar um tempo de vez em quando, por livre opção, que fique claro. Nas férias, por exemplo, é bom quebrar a rotina. Também sinto um prazer danado em saber que aqueles que mandam uns dez arquivos tipo PPS por dia, vão receber a minha educada mensagem – não vou responder sua mensagem porque estou em férias. Que delícia!!!
Em dias normais de trabalho e rotina não fujo dela.
Muitas outras pessoas fazem isso também. Alguns mais doidos não saem de casa sem ler os e-mails. Outros são escravos de comentários e respostas. Sempre respondem, como se algo ruim fosse acontecer se deixassem de fazê-lo. Respostas das respostas, das respostas, das respostas. Se pega outro viciado, entra em “looping”.
Nem sempre é preciso responder, diz a regra da boa educação, ou o guia de etiquetas no computador. Quando recebo um comentário direto, sobre meus textos, respondo. Quando é uma notícia, um artigo, uma dica - só comento se tiver algo a acrescentar.
Descobri perguntando e lendo por aí, navegando na rede, que a maioria das pessoas que escreve ou transcreve no computador, ouve música ao mesmo tempo. Em rádios “on-line” ou seus arquivos MP3.
Com isso desenvolvi uma mania, pesquisar a relação entre o que estou escrevendo, a palavra chave por exemplo, com músicas.
Agora mesmo estou ouvindo a música Pela Internet, do Gilberto Gil. “Criar meu web site /Fazer minha home-page /Com quantos gigabytes /Se faz uma jangada /Um barco que veleje/ Que veleje nesse infomar”.
Ouvi também programas muito bons que misturam na entrevista as músicas do entrevistado. Canções que marcaram sua vida, sua carreira.
Além disso leio jornais, resenhas, poesias, contos e crônicas.
Por diversão e curiosidade pesquisei meu nome, entre aspas, para ser mais precisa na busca. Fiquei até preocupada. Achei meus pedaços, em palavras, poemas, comentários e fotografias. Eu, na rede, desmanchada e construída.
Encontrei também outras Ana(s) Mello. Dentre elas uma cantora e compositora de Belo Horizonte. Muito gentil, respondeu minha mensagem.
Deixo então uma dica – seja forte, não permita que a internet mande na sua vida. Divirta-se, afinal não dá para voltar atrás, a tecnologia é uma onda imensa. E caiu na rede, é peixe.

BLOG

Sou – em pedaços
de palavras.
Os outros,
meu inferno,
em respostas
que não chegam.