quarta-feira, 30 de maio de 2007

Namore, não fique

Hoje eu vou fazer propaganda do namoro. Namorar é muito melhor do que ficar simplesmente.
Já sei, você está pensando que eu já passei dos quarenta e nem sei o que é ficar. Bobagem, tem muito quarentão que fica, e além do mais é só pesquisar, falar com as pessoas, para saber o que é que está rolando.
Em primeiro lugar não vá na conversa dos que dizem que namorar está fora de moda, a moda é a gente que faz. Também não se curve às pressões da turma. Eles querem que você fique, dizem que todo mundo já ficou, mas isso nem sempre é verdade. É natural do ser humano ralar com o próximo. Quando estamos solteiros todos querem nos casar, dizem que é melhor. Depois pressionam para que venha o primeiro filho. Aí filho único é ruim, precisamos ter outros. Resumindo, é tudo conversa, cada um sabe o que é melhor para si.
Exatamente, eu estou só defendendo o namoro, mas a decisão é toda sua. Pondere, aprecie.
Ficar não tem compromisso, mas compromisso é tudo. Mostra responsabilidade, comprometimento, personalidade. Não ter limites ou regras é superficial. Pode ter intimidade sexual mas não tem nenhuma intimidade emocional.
Namorar é ter um parceiro que goste de você, que divida suas ansiedades e segredos, que tenha opiniões para compartilhar.
Tem a expectativa de durar para sempre, de virar casamento, ser eterno. Ou pelo menos tem a graça do querer, do futuro.
Ficar não tem futuro, está fadado a acabar.
Qual a graça de beijar um monte de gente em uma festa? Será que isso acrescenta alguma coisa além de bactérias? Beijar é fácil de aprender, não precisa faculdade. Beijar com amor, com vontade, com desejo de dias só de paquera, é muito melhor.
E o dia dos namorados? É uma delícia. Casais por aí trocando abraços, beijos, presentes. Mandando torpedos, escrevendo coisas melosas. É um dia programado para o amor.
Namoro pode ser para sempre, mesmo depois de casados nós podemos namorar, mandar mensagens, fazer poesia.
Os ficantes não sabem quase nada um do outro. Não sabem a música preferida, não conhecem a família, nem as manias, qualidades e defeitos.
E dia dos ficantes? Tem?
Percebeu? Namorar é muito melhor.

Na verdade, tá ligado


No meu laboratório doméstico fiquei analisando o vocabulário do meu filho de doze anos e sua tribo. Tem um dos índios que em cada frase coloca no mínimo dois: tá ligado. Tem também o tipo assim, direto, man, ô meu.
Sei que quando jovens usamos muitas gírias, roupas parecidas, gostamos do que nossos amigos gostam. É legal, dá segurança.
Mas além das limitações da escrita que o MSN permite e eu não dou conta de corrigir agora mais a comunicação oral para atormentar.
Não resisti, chamei o amigo para uma conversa.
- Mateus, não quero interferir no teu modo de ser, aprovo que tenhas amizade com meu filho, mas não achas que usas muito, tá ligado?
- Pois olha Ana, tá ligado, eu nem me dou conta, tá ligado.
Bom, a conversa aprofundou e os “tá ligado” até diminuíram.
Ele provou ser bom na argumentação, e que está bem no colégio. Ele acredita que os adultos também usam suas gírias e enchem a paciência repetindo-as até na TV. Referindo-se ao “na verdade”. Expliquei que “na verdade” não é gíria, é uma locução adverbial que quer dizer "realmente, certamente, de certo, por certo". Já usada há muito tempo. Machado de Assis já usou no romance D. Casmurro: “Na verdade, Capitu ia crescendo às carreiras”. E no conto Uns braços: “Na verdade, eram belos e cheios, em harmonia com a dona, que era antes grossa do que fina, e não perdiam a cor nem a maciez por viverem ao ar;”.
Muitos outros autores já usam há muito tempo.
Agora está na moda, os repórteres usam nas entrevistas da TV. É usado em diálogos informais e discursos acadêmicos. Os políticos usam muito. O que para alguns se faz necessário, pois existe também o “na mentira”.
Concordamos finalmente que tudo que é demais atrapalha, e que falar e escrever corretamente requer estudo diário. Cometer erros não deve ser motivo para desistir ou ficar acanhado. Corrigir com educação contribui mas usar o conhecimento para constranger está completamente por fora, é preconceito lingüístico.

MORFOLOGIA E SINTAXE

amor gramatical,
ele interrogação
ela ponto final

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Ler e escrever, pura terapia


Acho que ninguém mais duvida que ler e escrever faz bem. Acalma, ocupa o tempo de maneira criativa, fornece assunto para boas conversas. Escrever ensina a organizar as idéias, descarregar as angústias e ansiedades. Ajuda a pensar de maneira mais coerente e organizada.
Costumo ler uma poesia, buscada ao acaso entre meus poetas favoritos, quando estou angustiada ou querendo escrever e não consigo. Quem sempre me ajuda? Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Mario Quintana, Cecília Meireles.
Moacyr Scliar, no livro O olhar médico – crônicas de medicina e saúde, fala sobre a escrita como terapia. Cita a Associação Nacional para a Terapia pela Poesia (NAPT) que existe nos Estados Unidos desde 1981.
A NAPT confere credenciais profissionais a terapeutas treinados em trabalhar com a poesia, é um diploma em biblioterapia. Esse terapeuta tem fundamentação em psicologia, literatura e em dinâmica de grupo. Como terapeutas de poesia, eles usam todas as formas de literatura e estão unidos pelo amor da palavra, e sua paixão por melhorar as vidas de outros e deles mesmos.
Na prática o trabalho funciona a partir da leitura de um poema e do acompanhamento pelo terapeuta das reações emocionais do paciente frente ao texto. E através da análise e discussão dos escritos dos pacientes.
Essa terapia serve não só para curar mas também para proporcionar crescimento pessoal e melhorar o relacionamento com os outros.
Como escrever é fácil, quase de graça, receito a todos. Como poesia, crônica, em forma de diário, em doses homeopáticas ou grandes dosagens mesmo.
Se você considera-se sem qualquer habilidade comece escrevendo inspirado em algum poeta. Siga o conselho de Carlito Azevedo, que em sua oficina de poesias propõe aos alunos que escrevam a partir de um poema de um autor consagrado.
Ele diz: “Os poetas nascem uns dos outros, do casulo de um sai a borboleta de outro”.
Publicando na internet podemos ainda fazer amigos, encontrar pessoas que pensam como a gente, compartilhar.

poesia

revelar a alma
de um poeta prisioneiro,
é teu destino derradeiro

Gentileza é essencial


Uma amiga usou essa frase no MSN. Também acho, gentileza é tudo de bom.
Que surpresa quando somos atendidos com carinho naquela ligação que caiu em algum número por engano:
- Não, não mora ninguém aqui com esse nome. Qual o número que você discou? Aqui é ...
- Desculpe, foi engano!
- Não tem problema nenhum não, isso acontece.
Quando alguém cede seu lugar na fila, seu acento no ônibus. Diz obrigado, cumprimenta, saúda.
Ou quando vamos fazer uma troca em uma loja, já desconfiados, prontos para apresentar a nota e exigir nossos direitos. A vendedora atende com aquele sorriso enorme e fala:
- Tudo bem, trocaremos agora mesmo.
Os colegas no trabalho também nos apanham de improviso. Muitos são elegância em pessoa, educados, prestativos, se estão de mau humor até saem de perto. Outros no entanto não perdem a oportunidade de pisar em um ou dois a cada dia.
A falta de garbo está em toda parte. Manifesta-se em uma piadinha preconceituosa, uma crise de arrogância, em grosserias gratuitas.
Isso me fez lembrar da história do Profeta Gentileza, um homem que andava de túnica e estandarte na mão entre o Caju e a Rodoviária Novo Rio no Rio de Janeiro. Ele registrava suas mensagens nas pilastras do Viaduto do Caju. Ele escreveu: gentileza gera gentileza. Entre outras frases simples mas muito sábias.
O verdadeiro nome do profeta era José Datrino. Ele começou a pregar essas mensagens em 1961 após um incêndio que destruiu um circo em Niterói. O acidente matou inúmeras pessoas marcando tão profundamente José que o fez abandonar o trabalho a mulher e os filhos. O Profeta Gentileza morreu em 1996, com 79 anos.
Mas a cortesia tem tudo para sobreviver. Gestos fraternos são um hábito que podemos começar praticando agora, e seguir pela vida toda.
Donaire!

sábado, 26 de maio de 2007

Folhas da vida

Não lembro do meu aniversário de quatorze anos. Lembro dos quinze porque teve reunião dançante, bolo em forma de leque, anel de brilhante e viagem.
Pensar na minha adolescência faz lembrar de espinhas, muitas espinhas, de poesias sobre a vida e sobre o amor, que eu lia e escrevia sem parar.
Não namorei muito, é verdade, culpa da minha altura, combinada com meu nariz e meus cabelos. Mas tinha mais amigos do que amigas. Graças ao meu bom humor e discrição.
Achava muito legal ser guri. Essa coisa de ser bonito ao natural me fascinava. Não pintavam as unhas, nem arrumavam ou domavam os cabelos. Espinhas? Azar.
De calças compridas e tênis sem ter que sentar direto. Subir em árvore, cuspir no chão, mascar chiclete descaradamente.
Mais legal ainda era ser guria e fazer tudo isso.
Em plena festa largávamos tudo e íamos jogar bola no pátio. Imagina se de unhas compridas e salto alto isso seria possível.
Depois dos quinze não deu mais. As pessoas cobram, reclamam, condenam. Meninas não podem andar misturadas com os meninos. Intrigam a cabeça dos guris que passam a olhar as gurias de um modo diferente.
Fazer o quê? Tricô, bordado, cozinhar. Tem sua utilidade, pratico até hoje, quando meu guri faz quatorze anos.
Está bem mais alto do que eu, o que é bem fácil. Esperto, inteligente, e não é por ser meu filho, o boletim do colégio confirma.
Um verdadeiro cavalheiro. Carregas as sacolas, abre a porta para mim, oferece ajuda. Abre também garrafas de refrigerante e vidros de pepino. Mas não abaixa a tampa do vaso, nem repõe o papel higiênico. Um verdadeiro representante da espécie dominante na minha casa.
Entre os presentes, ganhou um barbeador, pois já tem barba o guri, tem também idéias próprias e argumentos.
Como é que a gente não vai ficar velha. E assim, vamos escrevendo páginas e páginas nas folhas da vida.

Felicidade não tem precisão de luxo


Depois dos quarenta anos a gente adora relembrar. São as músicas que dançávamos, as roupas da moda, os filmes que assistimos juntos, os brinquedos e tudo mais.
No meu tempo era assim! Frase que corrijo sempre, pois meu tempo, nosso tempo, é agora. E será nosso tempo enquanto estivermos vivos, ativos, querendo mais e melhor.
Meus amigos, assim como eu, vieram na maioria da quase extinta classe média baixa. Estudamos em escolas públicas. Levávamos merendas de casa, que eram muito parecidas: pão com banana, pão com margarina e mortadela, pão com doce de leite. Naquela época, da nossa infância, nossas mães cozinhavam. Faziam pães, doces, comidas, cujo sabor trazemos na memória até hoje.
Refrigerantes só em festas, e filé só depois de adulto e trabalhando.
Mas nossos filhos, estamos criando com o bom e o melhor. Estudam em escolas particulares, usam roupas da moda, fazem curso de inglês, atividade física, têm o melhor computador, mp3, DVD. Só comem filé.
Para isso, fazemos um grande esforço. Agora os casais trabalham, as mães não cozinham tanto. Ansiamos por prepará-los bem, pois o mundo modernizou-se rapidamente e a competição é muito grande.
Talvez algumas atitudes possam nos trazer arrependimentos futuros. Tantos jovens estão usando drogas, a violência cresce assustadoramente. Nossa parcela de culpa será dada pela falsa visão do mundo que passamos aos nossos filhos? Um mundo onde todos os seus desejos são atendidos, onde alguém trabalha para seu conforto e tranqüilidade. Onde só existe fartura e felicidade.
O choque com a realidade pode ser muito duro.
Tenho confiança de que isso não aconteça. Que fique também na memória as coisas boas que fizemos juntos. Os valores da família, a ética, a bondade.
As festas que fazemos no quintal de casa, onde cada um trás alguma coisa. A vontade de todos de partilhar.
Na comemoração dos oitenta e quatro anos do meu pai foi assim. Quis justificar para ele que todos estavam voltando de férias, pagamos impostos e materiais escolares, o dinheiro anda curto. Por isso não fizemos uma festa melhor.
Ele disse o que espero sirva de lição para o meu filho e outros filhos da nossa geração:
- Felicidade não tem precisão de luxo.

Fazendo bolo


Eu adoro fazer bolo!
Aquele da massa, com ovos, farinha, leite e fermento. Se bem que aquele que significa rolo e confusão também tem seu valor. Gosto mesmo de cozinhar. Comidas de todo o dia, arroz, feijão, bife e tudo mais. Acho que o aroma e as cores dos alimentos despertam emoções e lembranças, pois usamos todos os sentidos para percebê-los e manuseá-los. Creio que é como escrever um texto ou um poema. Vem primeiro a idéia, o sentimento, sob a forma de ingredientes. Depois a escolha das palavras, o tempero, e misturamos tudo, cozinhamos. Lemos e relemos, curtindo o aroma e o sabor, em uma prova na palma da mão.
Decoramos o prato, imprimimos. Depois servimos para uma ou mais pessoas, pode ser um banquete, um livro.
Os alimentos e as palavras - são vida. Reúnem pessoas com gostos parecidos, despertam a curiosidade. Em volta da mesa ouvimos o que os outros têm para contar e contamos também. Lugares diferentes têm sabores e autores distintos.
Os alimentos simples como as frutas, o feijão e o arroz trazem a idéia de simplicidade, de trabalho. Para mim são alimentos da infância, junto com os biscoitos e o bolo.
Cozinho praticamente todos os dias e quase todos os sábados faço um bolo. O bolo leva a energia das mãos que misturam a massa e logo espalha um aroma quente pela casa. Como palavras, convidam, chamam a família para a mesa. Pode até ser de pacotinho mesmo, funciona igual, é só testar para ver.
Pode ser um pão-de-ló que derrete na boca, como um poema do Mario Quintana. “Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês.”
Talvez de cenoura, com cobertura de chocolate, que eu misturo lendo Cecília Meireles. “Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.”
Sim, adoro ler poesia na cozinha, naqueles momentos de espera, em que o caldo do feijão engrossa, ou o molho rouba o sabor da carne, ou o bolo cresce.
O bolo que pode ser de café, para comer em prato todo branco acompanhado de licor e de Drumond. “Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?”
Os bolos são como as pessoas. Cada um com seu sabor, seu recheio ou cobertura. No decorrer da vida aprimoram a mistura, cozinham no fogo suas dificuldades, fazem seu fermento agir. Crescem e transformam-se em pessoas melhores.
Ou simplesmente abatumam.

Eu não odeio segunda-feira!


Muitas pessoas odeiam segundas-feiras. Tem até algumas comunidades no ORKUT.
Tenho uma amiga que odeia. Domingo à noite já começa a passar mal. Fica irritada, maldizendo o amanhã. Ela fez até terapia por causa disso. E chegou a algumas conclusões. Por ter trabalhado alguns anos em um lugar onde a equipe era muito chata, detestava o primeiro dia de trabalho da semana. Depois ia passando.
Entre outras conclusões mais particulares que não devo revelar.
Uma vez propus a ela um exercício de auto-sugestão. Disse a ela que no domingo deveria se divertir e aproveitar o dia, não seguir a rotina que vinha seguindo nos últimos meses. Nada de pensar em segunda e sim fazer de conta que o outro dia seria terça-feira. Expliquei que pratico auto-sugestão quando tenho dor de cabeça. Faço de conta que tomo, mas não tomo um analgésico. Imagino a cena, concentro-me nela. Muitas vezes passa. Acho que nesses casos era só tensão mesmo.
Convencida, ela colocou em prática minha idéia. Funcionou, é claro. Porque simplesmente ela parou de pensar no lado negativo.
Só teve um problema, ela levou tão a sério que esqueceu uma reunião da diretoria marcada para segunda-feira. Ficou de mal comigo, imaginem!
Bom, eu não tenho problema nenhum com os dias da semana.
Adoro segundas-feiras, mais ainda porque estou no SORTIMENTOS.COM com uma nova crônica sempre às segundas.
Que não seja este um motivo para que vocês as odeiem!

Eu digo, e você?


Digo sempre “Eu te amo”.
Para meu marido, meu filho, meus pais, minha sobrinha. Sempre fui carinhosa com minha família, o que é recíproco. Quando telefono para meu pai ele não deixa de dizer o quanto ficou feliz e como sou querida e amada. E não é da boca para fora, é de verdade, de coração. Meu guri costuma dar um beijo de boa-noite acompanhado muitas vezes de “Mãe, eu te amo muito”. Com o pai dele é igual. Muitas vezes estou no trabalho e ligo para saber como ele está, se foi bem na prova, ele termina a conversa com um bom beijo e um “Eu te amo”.
Uma dessas nossas conversas despertou a curiosidade dos meus amigos e a minha também. Começamos um estudo para saber quem dizia “Eu te amo”, para quem, e o que achava disso. Muito interessante, pois várias pessoas têm dificuldade para dizer que amam. Até para os maridos ou namorados, muito mais para os pais.
Outros consideram “Eu te amo” muito importante para estar usando toda hora. Como se amor gastasse ou pudesse correr o risco de se tornar banal.
Acho que é mais fácil a gente se arrepender por não ter confessado um sentimento do que pelo atrevimento de fazê-lo. Eu digo sempre o que sinto hoje, posso não ter a oportunidade de dizer amanhã. Causa constrangimento para algumas pessoas, mas também essas pessoas nem sabem abraçar ou beijar.
Aqui no Rio Grande do Sul, mesmo com fama de machistas, os homens abraçam e beijam seus pais, irmãos, tios. Claro que tem também os que criam seus filhos proibindo-os até de chorar, pois acreditam que homem não chora.
Na semana passada, fui até a escola do meu filho, conversar com a orientadora educacional. Ele está bem, tira notas boas, mas é muito folgado. Poderia usar melhor o potencial que tem. E não é muito incentivado na escola. Porque as escolas são como as famílias, preocupam-se com quem tem algum problema. Quem é quieto e faz a sua parte, passa despercebido. Não concordo com isso. Assim seremos um país onde mais ou menos está bom. Devemos melhorar sempre. Nada de estresse ou cobranças, mas incentivo.
O que isso tem a ver com “Eu te amo”? Perguntei para ele se sabia por que eu estava indo conversar com a professora dele. Ele disse:
_ Mãe, tu não vai fazer meus professores ficarem pegando no meu pé. Brincadeira, eu sei que vocês, tu e o pai, me amam, por isso têm interesse por mim.
É isso mesmo, “Eu te amo” tem muitas formas, além das palavras.

“O homem não morre quando deixa de viver, mas quando deixa de
amar”. (Chaplin)

Epitáfio (Copa 2006)


Ninguém gosta de perder. É triste. Uns choram, outros ficam paralisados. A torcida silencia.
Por quê? Como explicar um fracasso?
Há os que sempre souberam e os que tinham fé.
E chega a hora de apontar os culpados, crucificar os responsáveis. Desabafar em cima das desculpas e justificar.
Talvez pensar em outra coisa, o que será mais fácil depois que tudo terminar - nove de julho.
Tocar a vida para frente.
Tivemos um domingo de ressaca, com ares de luto e uma segunda-feira que será de recomeço. Afinal foi só um jogo, o mundo continua, cheio de problemas para resolver.
Alguém comentou que ouviu em um programa da televisão, que os jogadores da Seleção Brasileira teriam escolhido como música tema - Epitáfio dos Titãs. Se for uma piada, até que caiu bem.
Eles já sabiam que seriam derrotados, e mesmo assim não entenderam a letra. Pensaram em dizer que deviam ter batalhado mais, lutado mais. Arriscado mais e acertado mais. Certamente o acaso não os protegeu enquanto eles estavam distraídos.
Faltou atitude, competência e sei lá o que mais rola nos bastidores.
Para os torcedores tristes, inclusive para mim, digo que devemos centralizar nossos motivos de felicidade em coisas que dependam de nós. Construir alegrias, com atitudes simples e diárias, preenche a vida de quem faz e de quem recebe. A felicidade está sempre perto e vencer é uma conquista particular.
Uma frase da música dos Titãs serve bem para o momento: “A cada um cabe a alegria e a tristeza que vier”. Não dê mais importância às coisas do que elas realmente têm. Dê importância a Campanha contra o racismo: “Nós rejeitamos o racismo ou qualquer forma de discriminação, seja dentro ou fora dos jogos. Com o poder do futebol, podemos ajudar a erradicar o racismo do nosso esporte e do resto da sociedade”.

Em briga de marido e mulher


No dia 7 de agosto de 2006, foi sancionada a lei N.º 1.340, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
Esta lei recebeu o nome de "lei Maria da Penha" como forma de homenagear a mulher, Maria da Penha Fernandes, símbolo da luta contra a violência familiar e doméstica. Maria sofreu duas tentativas de homicídio por parte do ex-marido. Primeiro, levou um tiro enquanto dormia e ficou paraplégica, sendo que o agressor alegou que houve uma tentativa de roubo. Duas semanas depois de regressar do hospital, ainda durante o período de recuperação, sofreu um segundo atentado contra sua vida: seu ex-marido, sabendo de sua condição, tentou eletrocutá-la enquanto se banhava. A punição do agressor só se deu 19 anos e 6 meses após o ocorrido.
Mais ainda, no seu artigo 5º, a Lei contém uma carga ideológica inovadora, por permitir uma interpretação de reconhecimento da entidade familiar entre pessoas do mesmo sexo. A união homo afetiva.
É uma vitória contra o preconceito, a violência, a raiva descontrolada.
Esta semana li muito sobre a raiva, sobre o impulso descontrolado de algumas pessoas e como os raivosos são tratados. Na maioria das situações, por medo, as pessoas acabam acatando as decisões do mais violento. Daquele que grita, esbraveja, vocifera.
No trabalho é assim também. Por educação, por medo, ou outro motivo, algumas pessoas calam-se perante o ódio do chefe ou de algum colega. Os raivosos acabam ocupando posições melhores porque estas atitudes são consideradas de liderança. É muito mais comum ver respeitado um colega que grita do que alguém que é dócil e passivo.
Na família é a mesma coisa. A mulher e os filhos temem o marido e calam, obedecem. Se ele parte para a agressão física e não é denunciado isto pode se repetir por anos. Claro que as mulheres também podem ser violentas, mas as estatísticas provam que os homens são muito mais.
O que gera essa raiva incontrolada? Muitas causas. A falta de controle pode ser criada por insatisfação pessoal, por dificuldade para expressar sentimentos, por doença. Mas tem tratamento. Um pouco de raiva é importante, pois dá impulso, dá gana para enfrentar e reagir, desde que o limite exista.
Quando era adolescente eu presenciei uma cena de agressão na rua. Um homem, socando e batendo em uma mulher grávida. Tentei me aproximar mas ele virou para mim com os olhos arregalados e quase babando. Tive medo e fugi. Lembrei da minha mãe que dizia: “Em briga de marido e mulher, não se mete a colher”. Sinto arrependimento até hoje. E agora sei que violência nenhuma se justifica.
Em briga de marido e mulher, se mete a colher sim. A lei protege, basta denunciar.

Em 25 linhas


Conte sua vida em um minuto. Escreva sua biografia em vinte e cinco linhas. Diga o que pensa ou sente com duzentas palavras. É difícil! No início, depois a gente vai pegando prática.
Uma boa técnica é escrever em um espaço mais ou menos próximo ao objetivo e depois ir cortando aqui ou ali. A dificuldade é cortar sem tirar o sentido. Uma frase, uma palavra, pode ser fundamental para explicar o todo.
Para escrever em poucas linhas é preciso pensar no coração do texto, desenvolver a idéia dizendo o que é realmente importante. Trocar algumas palavras, procurar sinônimos. Assim faço com os poetrix, os minicontos e com as crônicas, na minha coluna em SORTIMENTOS.COM.
Ninguém pode ser sempre maravilhoso em poucas linhas, mas pode ser bom em vários conjuntos de escassas linhas aqui e ali. Acho até que é mais complicado sintetizar do que explicar muito a mesma coisa e ficar rodando em palavras vazias. Isso para os simples mortais. Outros escrevem muito bem, até sobre não escrever nada, sobre a falta total de idéias, e são magníficos.
Não basta ser conciso, mas preciso. E a precisão requer um bom vocabulário. Nem sempre palavras difíceis, pouco usadas, podem encantar o leitor. Há os que apreciam recorrer ao dicionário, aprender palavras novas. Mas a maioria dos leitores na internet prefere textos mais diretos. Aceite um desafio, tente dizer algo em 25 linhas.

E se...


Sempre pratico o “E se...”, desde criança. É uma maneira de pensar em outras possibilidades, em outras soluções para os problemas. Fica mais fácil de ver outras alternativas, plano A, plano B, e mais outros tantos quantos você puder imaginar. Não me transformei num gênio por causa disso mas acho que tenho muita imaginação.
Gosto de ler sobre criatividade e assim descobri o Projeto Saber no site da Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Descobri um pequeno Manual para o Pensamento Criativo, o autor é Luiz Carlos Martins que é profissional da área de Educação há mais de 25 anos, tendo publicado mais de 20 livros sobre Pesquisa da Criatividade. É fundador da Câmara Brasileira de Jovens Escritores, instituição de incentivo à prática literária entre os jovens e divulgação de novos autores.
Segundo Luiz Carlos Martins, muitos homens assim como Einstein, Thomas Edison e Gandhi, na infância foram considerados limitados. Mas eles superaram as expectativas e tornaram-se brilhantes. Em função da sua capacidade criativa. Sua forma de usar a inteligência.
Aprendi que a inteligência é a capacidade do cérebro de organizar informações e a criatividade a forma como a usamos. Diante das dificuldades nós pesquisamos uma maneira para resolvê-las. Quando as opções mais lógicas não funcionam lançamos mão do pensamento criativo. É a hora em que a mente oferece uma idéia original. É o chamado pensamento lateral, tentar de novo em outro lugar.
Vejam só, a chave para pensar lateralmente é usar a expressão “e se ...” . Adorei isso! Claro, é apenas o primeiro passo.
Também não basta ser criativo, temos que dar base para a imaginação, estudar, ler muito. E também não dá para dizer que nos tornaremos gênios do dia para a noite mas podemos fazer nossa vida mais fácil, mais alegre. Incentivar nossos filhos a pensarem diferente.
Acho que a criatividade está ligada também a sair da rotina, experimentar olhares diferentes, mudar o trajeto, provar outros temperos, conversar com pessoas diferentes, trocar idéias. Fazer palavras cruzadas, brincar. Jogos são bons para incentivar novas estratégias. Uma boa brincadeira é associar palavras livremente. Brinco desta brincadeira com meu filho, nós inventamos novas regras a toda hora, só pode ser verbo, só pode estar na mesma cena, só pode terminar em alguma sílaba. É impressionante o número de palavras e imagens que aparecem.
Meu conselho é de graça, seja criativo, não custa nada e torna a vida mais interessante. A frase é do Pablo Picasso: Eu não pinto as coisas como as vejo, mas sim como as penso.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

E o tempo passa


Logo que retornei das férias já ouvi as pessoas dizendo que depois das férias o tempo passa voando. Quando percebemos já é fim do ano. Continuou assim, elas dizendo que depois de agosto sim o ano já termina, que o Natal já está aí. Isto me dá certa inquietação, irritação até. Eu estou ali tranqüila, curtindo meu dia e alguém vem dizer que ele vai acabar, e outros vão passar sem que eu aproveite. Minha resposta, é que não é nada disso, afinal, em um segundo a vida gente pode virar de pernas para o ar. E os caminhos serão outros, talvez bem mais longos.
Alguns me respondem com a Teoria da Ressonância de Schumam, um físico alemão que constatou que a Terra é cercada por um campo eletromagnético muito forte, que possui uma ressonância mais ou menos constante. Esta freqüência também afetaria o cérebro humano. Por milhares de anos a freqüência permaneceu constante, mas na década de 80 e 90 passou de 7,38 para 13 Hertz por segundo. Como conseqüências ocorreriam os desequilíbrios ambientais, climáticos, os conflitos, as alterações de comportamento. Esta alteração faria com que a jornada de 24h da Terra ficasse em 16h. E a sensação de que o tempo passa mais rápido. Será?
Para Christian Barbosa, autor de A tríade do tempo, o desenvolvimento tecnológico nos impõe a obrigação de cumprir tarefas em menor tempo e com mais agilidade.
As pessoas sentem que trabalham contra o relógio. Segundo ele, as atividades diárias – profissionais ou não – se agrupam em três esferas: a da circunstância, a da urgência e a da importância. Elas são um tipo de santíssima trindade que, juntas, tomam todo o nosso tempo. Circunstanciais são as tarefas feitas sem vontade, só para não pegar mal para o chefe ou algum amigo. Urgentes são as que surgem no decorrer do dia e que têm de ser realizadas na hora. As importantes dão a boa sensação de dever cumprido. A medida ideal é dividir seu tempo com 70% de tarefas importantes, 20% de urgentes e 10% de circunstanciais. (Fonte: IstoÉ online).
Acho que é mais ou menos por aí. Temos que trabalhar, fazer determinadas atividades. Algumas delas podem ser realizadas com prazer, embora façam parte da rotina. Como exemplo, levar as crianças ao colégio. Para rechear o dia, precisamos de satisfação e alegria. Uma dose de leitura, uma boa música, uma atividade física. Ou o simples fato de estarmos vivos. Como resultado, vamos curtir cada momento do dia com toda a importância que ele tem e o tempo passará em seu ritmo normal.

“O tempo que eu hei sonhadoQuantos anos foi de vida!Ah, quanto do meu passadoFoi só a vida mentidaDe um futuro imaginado!”
Fernando Pessoa, na poesia Andaime.

Doença de médico


Esta é a história de um amigo, mas muito parecida com uma que aconteceu comigo e com outro amigo também. E com um amigo deste amigo.
Todos nós temos Planos de Saúde. Quem pode viver sem eles?
Bem, nós não costumamos consultar, médicos, a não ser quando estritamente necessário. Quando procuramos, pedimos indicações, referências de outros amigos. Talvez para evitar constrangimentos, pois as secretárias sempre perguntam quem indicou. Acho que deve acontecer um tipo de jogo misterioso, uma aposta entre os médicos, como o “Top 10”, o paciente que mais indica.
Bem, estatisticamente comprovado nas nossas pesquisas:
80% dos pacientes não permaneceram mais de dez minutos com o médico.
100% saíram com requisições para novos exames.
90% dos médicos perguntaram “o que o trouxe aqui” ou “o que você está sentindo”, mas não deram a mínima para as respostas. Ou seja, acham ou parecem achar que os doentes só querem desabafar, são carentes, não têm nada grave. Pode ser.
Antigamente médico era para isso, observava, ouvia, conversava, auscultava, e receitava. Talvez seja o respeito ao tal juramento de Hipócrates, que acreditava que a arte da medicina estava em observar. Isto tudo sem ressonância magnética!
Sim, os tempos mudaram, é a tecnologia, e o papo acabou.
Os consultórios estão cheios, as doenças aumentaram e se multiplicam. Os médicos atrasam e a gente acaba conversando mesmo é com a secretária.
70% dos médicos indicam outros colegas, para atender outra área, outra queixa ou apenas para uma segunda opinião.
Bem, o amigo aquele, ficou sabendo que o médico que ele iria consultar era louco por futebol. Logo no início da consulta ele já entrou no assunto:
E o time ontem? Que jogão!
O doutor se empolgou, discursou por doze minutos, até que a secretária avisou que o próximo paciente já estava aguardando. Ele então levantou, estendeu a mão ao meu amigo, bateu nas costas dele e lascou:
- Bem, nos vemos na cirurgia, fique tranqüilo que a secretária vai agendar tudo.
E olha que não houve nem exame.
Não tenho nada contra os médicos, e sei que tem bons profissionais por aí.
Mas afirmo com certeza, alguns estão doentes.

Dia do trabalho


No dia 1º de maio de 1886, em Chicago, na época um grande centro industrial dos Estados Unidos, aconteceu uma greve geral. Os trabalhadores foram para as ruas protestar contra condições de trabalho desumanas e exigir redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias.
Foram muitas manifestações e a repressão foi dura, com prisões, confrontos violentos e mortes.
Em 1889, um Congresso Socialista, em Paris, escolheu o dia 1º de maio para homenagear a luta dos trabalhadores pelos seus direitos.
Não vou discutir diferenças salariais ou falta de oportunidades de emprego. O dia do trabalho tem um significado diferente para todas as pessoas.
Cresci pensando em trabalhar, que eu não poderia viver sem um emprego digno, que precisava ser independente e que um dia deveria ajudar meus pais.
Observei desde cedo meu pai, que não faltava nem se atrasava nunca. Que queria ganhar mais e proporcionar uma vida melhor para sua família. Embora minhas amigas da mesma idade tenham sido criadas para um dia casar e talvez parar de trabalhar quando tivessem filhos, não recebi essa orientação. Fui instruída a trabalhar sempre.
Assim, faço parte de uma geração onde as mães trabalham e deixam seus filhos em creches.
Como muitas mulheres, exerço uma dupla jornada de trabalho. Acho que as mulheres trabalham muito, pois as mudanças nas atividades profissionais não foram acompanhadas completamente pelos homens.
Que já respeitam as mulheres em trabalhos que antes eram só masculinos, mas nem sempre dividem com elas as tarefas domésticas e a educação dos filhos. Isto, é claro, está mudando.
A importância do trabalho na minha vida e tenho certeza, é também na de muitas outras pessoas, está relacionada com o prazer que ele me proporciona. Não faço exatamente o que gostaria de fazer, nem ganho o salário que desejo, mas faço por opção. E essa consciência faz com que eu use de responsabilidade, criatividade e empenho na execução das minhas atividades diárias.
Isto, talvez não seja a tão falada realização profissional. Seja apenas uma maneira de encarar a vida. Poderia ter seguido em outra profissão e acredito que desempenharia minhas atividades com a mesma satisfação.
Através do trabalho fiz grandes amizades, pessoas que compartilham sempre das minhas conquistas pessoais, das minhas alegrias e dos meus problemas. Consegui ter uma vida confortável.
Vinte e cinco anos no mesmo emprego, é um tempo considerável, e sem inimigos, é uma vitória.

Dia do escritor


Em 25 de julho de 1960 aconteceu o I Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira de Escritores, que tinha como presidente José Peregrino e como vice Jorge Amado.
Como foi um sucesso, um decreto do governo consagrou o dia 25 de julho como o Dia Nacional do Escritor.
Sinto o maior orgulho por ter nascido no dia 25 de julho de 1961. O que não me confere nenhum talento especial, mas tomo esse dia como meu.
E se você gosta de escrever, tem amor pela palavra, é seu também.
Não fique pensando que só quando tiver publicado um livro poderá ser chamado de escritor.
Muitos escritores publicam muito na internet antes de ter seu primeiro livro em papel. A internet é uma ótima ferramenta para divulgar, conhecer outras pessoas que têm os mesmos interesses, participar de concursos. O custo é baixo e seus textos andarão longe em segundos.
O número de escritores na rede aumentou muito nos últimos anos. Alguns criticam a baixa qualidade dos textos publicados, dizendo que falta criatividade e bom português.
Talvez. Mas quem sabe, os bons escritores e críticos, devessem usar esse tempo para orientar, dar dicas, corrigir até, os que necessitam ajuda.
Tem espaço para todo mundo, não é elegante eliminar a “concorrência” censurando-a.
Além do mais, a internet é terra de jovens, que devem ser incentivados a ler, escrever, propagar suas idéias. Mudanças acontecem com projetos e conceitos novos.
Para escrever melhor é preciso praticar muito. É certo, deve-se atingir certa maturidade, desde que essa maturidade não acabe com ânsia, com a paixão. Aquela certeza de que, com nossos textos, podemos dizer tudo que alguém gostaria de dizer e não encontra palavras. De contar dos sentimentos mais loucos, de ter metáforas precisas para tudo que a natureza crie e tudo mais que alguém possa imaginar.
Um dia eu chego lá!
E que a inspiração propague-se, pelo menos até dia 4 de outubro, dia do poeta.
Bom, mas essa já é outra crônica.

Minicontando: Sessão de autógrafos
O livro todo custou um ano de trabalho árduo. Depois a editora, as correções, os valores elevados. Mas tinha a promessa de vender bem, o incentivo dos amigos, dos alunos, da família.
Dezoito horas e ele estava lá, pronto, no pavilhão de autógrafos. Mas os organizadores não lhe deram a mínima atenção. Arrumavam mesas para outros escritores, serviam água. Ele foi ficando triste, perdeu-se nos próprios pensamentos, realmente ele era um fracasso. Nem a própria família lembrou.
Assustou-se quando alguém tocou seu ombro:
- Sonhando acordado professor?
A fila era imensa, ele parado com a caneta na mão e o livro aberto na sua frente.
- Não, pensava em outro livro.

Dia da sogra


Dia vinte e oito de abril é o dia da sogra. Quem inventou? Sei lá, algum puxa-saco.
Acho que ódio pela sogra é algo difícil de resolver. Talvez não tenha solução. Pode vir do nada, no primeiro encontro, ao primeiro olhar. Pode também ter causa justa, vir com o tempo, elaborado e profundo.
Pobre daquele ser que começa a namorar alguém que teve um relacionamento anterior muito longo e marcante. Os parentes, incluindo a já falada, vão trocar seu nome, comparar com “o anterior”. Era mais quieto, gostava de lasanha, ou não gostava de lasanha. Sempre haverá comparações, positivas ou negativas.
E se não for isso, as esposas sempre serão confrontadas com as mães dos ditos cujos, no caso, a sogra.
A comida da mãe é melhor, ela faz um doce! Como costura bem, como tem paciência com as crianças!
É difícil de agüentar.
Só entendi isso realmente quando uma amiga me contou um causo que aconteceu com uma amiga da mãe dela, a Elisa.
Elisa casou cedo, com o Artur. Prendada. Cozinhava bem, ótima mãe e dona-de-casa. A única coisa que não acertava, era o feijão. Artur sempre dizia:
- Não tem igual ao feijão da mamãe.
Elisa experimentou de tudo. Deixava de molho com várias horas de antecedência, trocava a água. Mudou o tempero, com mais alho, cebola, costelinha de porco. Não suportando mais, pediu a receita à sogra, que triunfante ditou item por item, e acrescentou:
- Não tem nada de mais no meu feijão.
Elisa repetiu a receita mas não obteve êxito e nem agradou o marido.
Irritada, nervosa, um dia queimou o feijão. Serviu assim mesmo.
Artur comeu feliz e sorridente, repetiu, e sentenciou:
- Finalmente está igual ao da mamãe.
Para mim isso explica tudo. O amor que os filhos têm por suas mães, faz com que sejam incomparáveis.
Um bom relacionamento com a família do ser amado é importante, mas nem sempre ocorre facilmente.
Mas não desista, a sogra, assim como você, também pode ser uma ótima pessoa.

domingo, 20 de maio de 2007

De alma lavada


Estar em férias é também um estado de espírito, um círculo de excelência. Para aproveitar tem que saber relaxar, clicar no botão de desliga do trabalho.
Eu tenho prática e mesmo durante o ano, quando decido tirar um tempo par mim, uma tarde por exemplo, desligo mesmo.
Na volta das férias não lembro nem de meu número de telefone ou onde estão os objetos nos armários da minha casa. Não esqueço para sempre, à medida que vou precisando vou também liberando o acesso as informações arquivadas, de maneira automática.
Como felizmente não tenho grandes problemas, para os pequenos aviso: estou em férias. Não fico tentando resolver as crises do mundo nem querendo entender as pessoas.
Leio, escrevo, cozinho e compartilho minhas horas com pessoas que amo. Mas não preciso estar no Caribe ou em um bangalô master do Nannai Beach Resort. Santa Catarina é suficiente.
Na volta, alma lavada, estresse zerado, é hora de sonhar, desejar, fazer planos e executar os projetos iniciados na virada do ano, com aquela taça de espumante.
Sei que muitas pessoas não conseguem relaxar, provavelmente porque se sentem na obrigação de preencher o tempo livre com mil e uma atividades. Não é meu caso, cultivo o ócio, no período de férias.
Segundo um estudo publicado no Journal of Occupational Medicine, quem nunca tira férias ou não consegue se desligar do trabalho nos momentos de lazer tem 60% de chance de adoecer.
Não quero ficar doente, ninguém quer.
Então o melhor é não se preocupar em relaxar, mas relaxar simplesmente. Dividir as férias em dois períodos, para que não demore muito a chegar novamente. O celular vai, mas fica em casa, não vai até o mar, não toma chope, nem sai junto para caminhar.
Quanto ao trabalho, tenho certeza, ninguém é insubstituível.
E o fundo musical é a música dos Titãs.
...Quero a almaQuero a alma renovadaLavo a almaLavo e seco no varal...Alma lavada, alma lavada
Dessa vida não se leva nada

Ciúmes


Dizem que o ciúme é o tempero do amor. Como qualquer tempero deve ser usado na medida certa para não estragar tudo. Se for exagerado, só ele aparece.
Meu conselho é o seguinte – não sinta ciúmes de coisas que são a vida do outro. A profissão, a família, o modo de ser da pessoa amada. Isto levará ao rompimento, mais cedo ou mais tarde.
Alguns apreciam o ciúme, gostam de provocá-lo, instigá-lo. Não viveriam sem um parceiro que não fosse possessivo. Gostam de ser seguidos, vigiados.
A mulher do João é ciumenta. É uma fera em forma de gente. Quando ele chega em casa, ela examina o colarinho da camisa dele procurando vestígios de perfume ou manchas de batom. Vasculha os bolsos, procurando bilhetes, números de telefones, nomes de mulher.
Ele até gosta, mas teme.
A relação está no nível do pânico eu diria. Isto foi depois das férias. Ela estava de olho nele na praia. Proibia até o uso de óculos escuros, para poder vigiá-lo melhor.
Andava inquieta, como uma fera enjaulada que caminha de um lado para o outro, cheirando e olhando.
Lá pelo meio da semana mandou que ele fosse com os cunhados para o mar, ela ficaria em casa, arrumando tudo. Isto poderia acalmá-la.
A casa ainda estava fechada e a Sara lavava a louça do café quando um ladrão começou a roubar as roupas do varal. Ela gritou e mandou ele largar tudo. Mas ele não obedeceu, não valorizou sua opositora, decidiu correr.
Sara não admite ser desobedecida, correu também, pegou o ladrão e bateu nele.
Não bateu pouco, desabafou sua ira. O povo chamou o delegado que salvou o ladrão da megera.
O ladrão todo moído pedia:
- Doutor, só não diz que foi mulher, está certo?
O João ainda é apaixonado pela Sara, quando eu falo que ciúme é ruim, ele responde:
- Imagina se ela desafogasse em mim!
E eu digo:
- Ciúmes sempre acaba machucando alguém.

Calcinhas penduradas


Uma grande revolução na emancipação da mulher é a exposição da sua langeri. Minha mãe não pendurava roupa íntima nos varais que ficavam a vista no pátio.
Minha avó então, nem se fala, nunca vi suas roupas íntimas a não ser nas gavetas e não eram nada “sexy”.
Já a mulherada menina, pendura calcinha no banheiro, deixa sutiã jogado na cama, mostra a calcinha quando se abaixa e o sutiã quando levanta os braços, de blusinha bem curtinha.
A calcinha é uma metáfora para dizer que as mulheres estão decidindo, escolhendo, abrindo novos espaços sem pedir a ninguém.
Penduram suas idéias onde bem entendem.
Em trinta anos, as calcinhas, mudaram muito. A exigência de conforto, formas e cores é bem maior. A sedução está implícita. As mulheres mudaram também, trabalham, estudam, ocupam postos importantes. E ainda continuam mães, donas de casa, esposas.
Certamente ainda existirão muitas Marias da Penha e muitas outras serão beneficiadas com a lei criada para punir a violência e proteger as mulheres agredidas. Outras viverão sem trabalho digno, sem estudo e sem oportunidade.
Mas o mundo continuará mudando.
Os homens já estão diferentes, compartilham, trocam de papéis nas atividades domésticas.
E formam-se famílias mais solidárias, mais amorosas, com igualdade.
Desejo ver o tempo em que o Dia Internacional da Mulher será só uma lembrança, de uma época em que existiam diferenças, e as calcinhas ficavam escondidas.

Caiu na rede


Não vivo sem internet, mas também não morro se ficar longe dela. Que o provedor não me ouça!!! Até acho bom dar um tempo de vez em quando, por livre opção, que fique claro. Nas férias, por exemplo, é bom quebrar a rotina. Também sinto um prazer danado em saber que aqueles que mandam uns dez arquivos tipo PPS por dia, vão receber a minha educada mensagem – não vou responder sua mensagem porque estou em férias. Que delícia!!!
Em dias normais de trabalho e rotina não fujo dela.
Muitas outras pessoas fazem isso também. Alguns mais doidos não saem de casa sem ler os e-mails. Outros são escravos de comentários e respostas. Sempre respondem, como se algo ruim fosse acontecer se deixassem de fazê-lo. Respostas das respostas, das respostas, das respostas. Se pega outro viciado, entra em “looping”.
Nem sempre é preciso responder, diz a regra da boa educação, ou o guia de etiquetas no computador. Quando recebo um comentário direto, sobre meus textos, respondo. Quando é uma notícia, um artigo, uma dica - só comento se tiver algo a acrescentar.
Descobri perguntando e lendo por aí, navegando na rede, que a maioria das pessoas que escreve ou transcreve no computador, ouve música ao mesmo tempo. Em rádios “on-line” ou seus arquivos MP3.
Com isso desenvolvi uma mania, pesquisar a relação entre o que estou escrevendo, a palavra chave por exemplo, com músicas.
Agora mesmo estou ouvindo a música Pela Internet, do Gilberto Gil. “Criar meu web site /Fazer minha home-page /Com quantos gigabytes /Se faz uma jangada /Um barco que veleje/ Que veleje nesse infomar”.
Ouvi também programas muito bons que misturam na entrevista as músicas do entrevistado. Canções que marcaram sua vida, sua carreira.
Além disso leio jornais, resenhas, poesias, contos e crônicas.
Por diversão e curiosidade pesquisei meu nome, entre aspas, para ser mais precisa na busca. Fiquei até preocupada. Achei meus pedaços, em palavras, poemas, comentários e fotografias. Eu, na rede, desmanchada e construída.
Encontrei também outras Ana(s) Mello. Dentre elas uma cantora e compositora de Belo Horizonte. Muito gentil, respondeu minha mensagem.
Deixo então uma dica – seja forte, não permita que a internet mande na sua vida. Divirta-se, afinal não dá para voltar atrás, a tecnologia é uma onda imensa. E caiu na rede, é peixe.

BLOG

Sou – em pedaços
de palavras.
Os outros,
meu inferno,
em respostas
que não chegam.

Os cachorros e a Páscoa


E a Páscoa passou. A Páscoa que não parece a mesma de quando eu era criança. Na quinta e na sexta-feira as pessoas não falavam alto, não diziam palavrões, não ouviam rádio. Ou seja, não manifestam alegria. Minha avó fazia jejum. No domingo, logo cedo, ganhávamos ninhos com ovos de galinha recheados com amendoins, bombons e coelhos de chocolate.
Hoje as crianças fazem suas próprias compras, juntos com os pais, escolhem ovos de chocolates com brinquedos. Páscoa é o dia em que os pais colocam ovos na cesta e dizem que foi o coelho da Páscoa. Vai explicar que coelhos não botam ovos!
E é feriado. Muitas pessoas viajam nos feriados. Li no jornal, que pessoas que tem cachorros sofrem com a dificuldade para encontrar hotéis que aceitem seus bichinhos. É complicado até levá-los no avião.
Tudo isso porque agora os cachorros vivem em apartamentos, viajam, têm doenças de gente – até depressão, só comem ração, e fazem cocô na calçada.
Na calçada onde todas as pessoas passam, em frente à casa de outros. Recolher a produção dos doguinhos é obrigatório, é lei municipal em Porto Alegre (lei municipal 8840/2001) . Mas os mal-educados são os donos.
Não tenho nada contra os cachorros, adoro filhotes.
Prova está que, num feriado de Páscoa, fui até babá de um deles. Ela, a Sheila, a cachorra da minha cunhada – bonita frase.
Nunca tinha cuidado de nenhum cachorro assim, que só come ração. Ela deixou um pacote grande, o pote da comida, o pote para água, o cobertor, uns brinquedinhos e a coleira.
Eu deveria levar a Sheila uma vez por dia lá fora, para que ela fizesse suas necessidades. Tudo certo.
Primeiro enchi os potes e estendi o cobertor. Ela comeu tudo, eu enchi novamente e assim várias vezes.
A comida acabou em dois dias e eu comprei mais. Quando minha cunhada ligou, contei tudo que a sua amada fazia e ela explicou que a comida deveria ser colocada só uma vez por dia.
Estava explicada a ansiedade com que a moça saía para rua e o tamanho do excremento. Quase humano!
Assim, descobri que feriado é ótimo de qualquer jeito. Melhor quando estamos perto daqueles que amamos, inclusive nossos animais de estimação.

MAU humor e MAL do humor


Quando aprendemos a rir dos nossos problemas a vida fica mais leve. Ninguém é doido de sair gargalhando com problemas sérios, mas para pequenos aborrecimentos do dia a dia, um sorriso ajuda.
Bom humor é importante na amizade, no trabalho, e principalmente no casamento. As relações de trabalho e casamento eu acho até parecidas. Os parceiros convivem diariamente e não podem perder o respeito. Se partirem para a pancada é demissão, ou separação. Férias conjugais podem ser perigosas, na volta pode haver substituição, como no trabalho. E para agüentar a rotina nada como uma dose de graça.
Por isso sou pragmática. Se for inevitável, que seja na boa, com alegria.
Para que complicar? A lógica não é fazer tudo da forma mais confortável com o menor transtorno? Portanto, desconheço mau humor. Dá muito trabalho ficar de cara amarrada. Para mim é um personagem difícil de interpretar.
Sei que muitas pessoas interpretam por defesa, fecham a cara para evitar aproximações. Sei também que mal (com L) do humor é uma doença, a distimia. Um estado depressivo crônico que prejudica não só o sujeito como todos na sua volta. A distimia tem até CID (Classificação Internacional das Doenças) e tem tratamento. Dizem os especialistas que os sintomas começam leves e muitas vezes quando o paciente ainda é jovem. As dificuldades do mundo não devem servir de desculpa para vivermos tristes e carrancudos.
Contudo, para ser bem-humorado é preciso querer, tratar-se quando necessário, e praticar. Ver o lado bom da vida.

sábado, 5 de maio de 2007

Boato? Estou fora


Minha avó já dizia, o que o povo fala, ou foi, ou é, ou será.
O que ela queria dizer e sempre dizia, é que se todo mundo comenta é porque já aconteceu mesmo. Ou está acontecendo. Ou por outra, vai acontecer, pois já existem indícios e o povo percebeu.
Mas desde os tempos em que minha avó pregava seus ditados as coisas mudaram muito. A indústria do boato e do falatório se especializou bastante.
Semear a discórdia é uma estratégia que pode detonar com uma pessoa, uma empresa ou um produto qualquer.
É o guaraná que pode matar, o desodorante que causa câncer, o adoçante que cria dependência. Os boatos agora têm a internet para propagarem-se mais rapidamente. Criam lendas e causam pânico. Alguns viram até leis, como é o caso da proibição do uso de celulares em postos de gasolina.
Complicado é desmentir, provar que não é verdade. E mesmo provando, valerá a notícia ruim, aquela que desmoralizou.
No ambiente de trabalho essa doença, do boato, é altamente destrutiva. Alguém com ódio começa a falar mal de um colega, muitos já começam a olhar feio para o sujeito, daqui a pouco ele já está sendo odiado e nem sabe o motivo. Aí entra outro ditado da minha avó – quem conta um conto aumenta um ponto. A pessoa vai modificando, aumentando e detonando.
O fofoqueiro sente prazer em sentir-se dono da verdade, ser o proprietário do destino das pessoas.
Boato é notícia sem confirmação, não devemos dar ouvidos a eles.
Meu ditado para combatê-los é:
Se não tenho nada de positivo para dizer, fico calada.

Assuntos complicados


Realmente, determinados assuntos azucrinam a vida. Eles passam como um filme, na imagem de fundo, nem são o foco principal, e de alguma maneira são fisgados pela minha mente. Daí não consigo parar de pensar neles. Pergunto a opinião das pessoas, pesquiso, tenho que escrever alguma coisa a respeito para que eles me libertem.
Nem sempre são assuntos polêmicos ou importantes, apenas martelam. Basta que a mente fique livre para que eles tomem conta. Só param de se intrometer se lhes dou atenção. O problema é que às vezes não rendem muito, preciso associá-los a outros para que tenham algum significado importante. E o pior de tudo é a vingança que eles cometem, sempre me causam algum tipo de contrariedade.
É alguém que fica ofendido porque acha que aquilo foi com ele, outro que acha que eu não posso pensar daquela maneira, porque não combina com meu modo de ser. E olha que nem tenho tantos leitores assim. Ou tenho?
Já expliquei que é só uma crônica, um pensamento vadio, uma opinião danada que no outro dia muda logo cedo. Bom, aí passo a ser considerada volúvel, quase maquiavélica, alguém em quem não se pode confiar. Poxa! Mas se não falo a verdade sobre ter uma certeza momentânea, também serei acusada.
Quando escrevi sobre a cor das unhas, avisei que era um exercício, mesmo assim quiseram saber se eu era contra quem pintava as unhas de vermelho, se achava muito sexy, se pintava as unhas só eventualmente mesmo.
Falei a verdade, era tudo invenção, só para escrever a crônica. Com uns toques de verdade é certo, pois ninguém consegue fugir dos seus princípios.
Aí sim a pessoa não gostou. Como ela poderia fazer uma imagem a meu respeito se eu escrevo qualquer coisa sobre qualquer coisa?
Justifiquei novamente, não quero perder nenhum leitor. O barato de escrever é este, viajar nos personagens, misturar realidade com fantasia.
Que não sou o que escrevo, mas que estou em tudo que faço.
Fico imaginando a vida dos cronistas famosos, sempre deve haver alguém cobrando uma opinião, um posicionamento.
Lembrei da Martha Medeiros, em um evento que assisti na Feira do Livro. As professoras questionavam uma crônica em que ela comparou Torres a Punta del Este. Muitas pessoas em Torres ficaram ofendidas achando que ela menosprezava a praia do litoral gaúcho. Martha explicou que não, que apenas quis chamar a atenção para alguns problemas daqui, onde a beleza natural é muito maior do que outros lugares. Só esta crônica rendeu bons minutos de explicação. Fora os e-mails que ela confessou que já respondera.
Deixando de lado as comparações, quem me dera um dia eu possa, os assuntos é que resolvem complicar. Assim do nada.
E não é só para quem escreve crônica, pense aí, quantas vezes em uma reunião de amigos, sua língua não foi mais rápida do que sua mente e você lançou aquele assunto inocente que lhe rendeu a maior complicação?

Amor e guisado


Ah! As mulheres! Faziam tudo para agradar os homens.
Vera foi sempre assim.
Roupa lavada, comida na mesa. Cumprir os deveres de esposa depois de ter arrumado a cozinha, colocado os meninos para dormir, passado a roupa para o dia seguinte.
Quando ele dormia, ela levantava quietinha para ler. Era a hora que ela tinha, só dela.
Foi lendo que ela começou a pensar se realmente as mulheres precisavam agradar tanto para serem amadas.
Para testar seu amor e seu poder, tomou uma decisão.
Resolveu comprar guisadinho pronto no açougue. O marido não admitia. Ela desmontou a máquina de moer carne que ela odiava lavar. Molhou e dispôs as peças sobre a pia para secar. Seguiu tudo normalmente como se ela tivesse moído a carne.
César sentou-se, ela serviu seu prato. Os meninos também começaram a comer. Na primeira garfada do marido, ela acompanhando disfarçadamente, ele fala:
- Guisado de açougue!
Vera toda ofendida:
- Imagina! Aqui em casa não entra guisado de açougue. Na viste a máquina lavada?
- Então a máquina que está suja.
Furiosa ela encerrou o assunto. Acusada de dupla incompetência, comprar guisado e não lavar a maldita máquina direito.
Mas o acontecimento foi aos poucos perdendo a força e a importância. Os filhos cresceram, casaram e César cada vez mais apaixonado pela mulher que lhe surpreendia sempre.
Vera voltou a estudar, faz aula de piano, e descobriu o que muitas mulheres levam muitos casamentos para saber.
Os homens amam porque amam, não porque são servidos.

POETRIX: Na cozinha


amor e pimenta
prazer inesperado
o coração inventa

Amigos, amigos, negócios à parte


É um ditado antigo, que tem sua sabedoria, já foi provado e comprovado que não é bom misturar negócios com amizade. Acho que é complicado juntar coisas polêmicas com amizade. Isso porque acredito que podemos ser amigos de pessoas que têm idéias diferentes, gostos diferentes, partidos diferentes, religiões que divergem. Creio que os amigos, são, não por serem iguais. Muitas vezes existe uma atração de companheiro, de irmão. Uma afinidade quase inexplicável. Mas como irmãos, somos também desiguais, com preferências distintas.
Agora, em época de campanha política, surgem muitas discussões e isso é importante, mas pode causar alguns problemas. Nem sempre as pessoas conseguem separar as opiniões do respeito e da amizade. É como no futebol, se a discussão ficar muito acalorada, o papo descamba para baixaria.
Pois tenho um amigo que pensa completamente diferente de mim, neste campo em especial, o da política. Como andamos um pouco afastados, em função de estarmos morando em cidades diferentes, nossa comunicação é na maioria por e-mail. Ele já mandou muitas piadas sobre meus prováveis candidatos, sobre outros em que sabe que já votei. Nunca respondi, nem opinei. Primeiro porque eu nunca discuto sobre esses assuntos, nem mando mensagens. Ele sabe minha preferência porque já perguntou, eu respondi, é claro.
Mas um dia desses, estava inspirada. Ele mandou uma piada e fiz um texto bem bacana, tipo lição de moral. Como ele ousava fazer pilhéria do meu candidato, se eu sempre respeitei as escolhas dele, nunca zombei do partido que ele escolhe para votar. Tentei não exagerar muito, pois ele poderia desconfiar.
Ele respondeu todo preocupado, pedindo desculpas, dizendo que mandou sem querer para um grupo de amigos, todo enrolado, pois também sou amiga.
Dei muitas risadas, respondi que as mensagens de computador, têm esta característica, não mostram sentimentos ou ironia, o que pode levar a uma interpretação perigosa.
Jantamos juntos no sábado, fiquei sabendo que ele até pediu ajuda na interpretação da minha mensagem, ficou abalado. Com medo de me magoar e incrédulo com meu posicionamento. Esqueceu completamente da essência da nossa amizade. Não enxergou meu jeito moleque, meu toque de humor. Por um momento, deixou de lado a emoção e foi só leitura.
No final ficou tudo bem. A amizade é sempre mais importante. Cada amigo tem um liame especial e único que nenhuma preferência ou opinião pode desatar.

A verdade está nas unhas


Uma vez por mês participo de um encontro de casais. Nossa justificativa revelada é amizade. Exercitamos o contar nas nossas próprias vidas e o comentar nas dos outros. Como tempero, uma boa comida, acompanhada de vinho ou cerveja, que vai soltando nossas proteções e nossas línguas. São três casais. Os homens, bem parecidos, gostam de carros e de futebol, falam noites inteiras sobre esses assuntos, fazendo das ouvintes peças dispensáveis.
As mulheres, as outras duas, são bem diferentes. Marta está sempre impecável. Roupas combinando, perfumada, cabeça erguida, imponente. Se fosse bicho seria cobra. Fica ali, parada, ouvindo tudo. De repente dá o bote, lança sua opinião certeira e fulminante. Que é puro veneno, mortal, abate seu oponente. É magra e esguia e gosta de ser servida e obedecida. Com um olhar comanda Arnaldo que lhe traz uma outra taça de vinho. Percorre o ambiente com a avidez de uma busca, analisa tudo, todas as repetidas vezes que vem a minha casa. Minhas mãos ficam geladas, meu coração bate apressado, será que coloquei toalhas limpas no banheiro?
Marta tem horário pra tudo, sua vida é cronometrada e agendada. Ginástica, analista, supermercado e manicure. Ela faz as unhas toda semana. Acho que é uma outra terapia. Ela faz para ser perfeita em primeiro lugar, depois para sentir-se mimada. Lá ela pode contar tudo que faz e ouvir um pouco do que as outras acham importante. Pode ouvir como os outros têm problemas e ela não. Jamais faria as próprias unhas porque não faz nada que julgue menos importante. Usa sempre esmalte vermelho.
Rose é a mulher do Peçanha. Doce, calma, gentil. Sempre sorrindo. Veste-se com discrição e elegância. Como profissão escolheu o magistério e adora o que faz. Tem paciência e jeito especial com as crianças. Já perdeu a conta de quantas alfabetizou. Além de trabalhar fora tem um tempo especial para dedicar-se aos trabalhos da casa. Que é aconchegante, cheia de guardanapos de crochê feitos pela Rose nas horas vagas. Ela tem habilidade para trabalhos manuais. Se fosse um bicho seria gato. Uma gata carinhosa que se enrosca nas pernas dos visitantes, miando e pedindo carinho. Mas uma gata de unhas lixadas e bem cuidadas. Rose faz suas unhas em casa, em um momento só dela. Usa sempre esmaltes de cores claras.
Quanto a mim, faço as unhas no salão, sem regularidade, quando dá. Na maioria das vezes estão curtas e só lixadas. Pois fazer as unhas não é minha prioridade. Se eu fosse bicho, nos dias de jantar de casais seria fera, pois acabo sempre lavando a louça, já que não fiz as unhas.