sábado, 14 de julho de 2007

Para onde vão os objetos perdidos?


O mundo está dividido em dois grandes grupos de pessoas. As que perdem coisas e as que acham. Existem grandes perdedores e grandes descobridores. Para perder é muito fácil, basta que o dono se desconecte dele por um momento, um desapego, e o objeto cai em esquecimento momentâneo e torna-se perdido.
Como a maioria das pessoas perde muito mais do que acha, fica a pergunta – para onde vão os objetos perdidos?
Para achar estes objetos é preciso certo treino e uma pitada de sorte. É importante estabelecer que a pessoa que acha, na maioria das vezes não é a que perdeu.
Ouvi certa vez o depoimento de um sujeito no ônibus, ele era um grande descobridor de guarda-chuvas perdidos. A técnica usada é muito simples, quase óbvia. Em dias de chuva quando o sol aparece sem aviso, os ditos objetos protetores são esquecidos, largados. Em ônibus, balcões, banheiros público, provadores de lojas, restaurantes e praças. É só ficar atento para encontrá-los. Ninguém gosta de carregar um guarda-chuva se ele não for útil no momento.
Este mesmo homem intitulou-se um iniciante em encontrar vales-transporte. Como utilizava transporte coletivo quase todos os dias, percebeu que as pessoas costumavam buscar na bolsa, os vales, ainda na parada, e com pressa acabavam derrubando algum antes de entrar no ônibus.
É uma idéia coerente. Assim fica fácil entender porque perdemos óculos quando o sol vai embora, canetas em sessões de autógrafos, cadernos em sala de aula, casacos quando esquenta, filhos em shoping center.
Na ânsia de encontrar nossos objetos perdidos podemos apelar aos santos. São Longuinho é especialista nesta tarefa. Exigindo para pagamento apenas três pulinhos. A regra é dizer ao São Longuinho, que se a coisa perdida for achada, você, que perdeu, dará três pulinhos.
Quando não são encontrados pelos incríveis descobridores, os objetos vão para um lugar mágico, onde milhares de objetos solitários esperam inconformados pelos verdadeiros donos. São catalogados e colocados aos pares em pequenas prateleiras. Existem seres especiais, quase místicos que são responsáveis pela guarda das salas e para receber os possíveis donos, caso algum deles apareça. O ambiente é sombrio e o cheiro é quase mofento.
Afirmo com convicção, pois já fui abduzida por um amigo até uma destas salas para procurar uma mala perdida.
Onde fica?
Ali mesmo, no prédio dos Correios.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Objetos e pessoas


Não consigo fugir das comparações. Um pouco pela forma, outro tanto pelo conteúdo. Um exercício. Olho para alguém e penso em cores, em frutas, em lugares, em poesias ou em palavras. Em objetos.
As comparações são ilimitadas. Ou seriam associações?
Com o tempo, se vejo a pessoa seguidamente ou se é um amigo, assume o objeto só para ele.
Tenho um amigo que é vermelho, de fruta é figo porque adora figo com strogonofe, o objeto dele é guitarra porque também é músico. Uma guitarra vermelha.
Tenho amiga microondas porque cozinha de dentro para fora, fica dias fervendo antes de explodir. Tem a geladeira que vive dando gelo nas pessoas, qualquer coisa emburra.
A abajur sempre trás uma luz quando estou chateada e usa uma saia tipo pantalha. De fruta é maçã, pois fica corada quando diz alguma bobagem.
Tive um chefe liquidificador, misturava todos os motivos, colocava uma pitada de raiva, muito mau humor e despejava em todo mundo como se fossem taças de Milk shake.
Outros amigos são livros, guardam poesias, crônicas e contos. São histórias que nos aproximaram um dia.
Minha mãe é uma casa, como no livro da Sylvia Orthof. “Se a casa fosse mãe, seria mãe das janelas, conversaria com a lua sobre as crianças estrelas, falaria de receitas, pastéis de vento, quindins, emprestaria a cozinha pra lua fazer pudins”. Meu pai é jardim, com banco para ler histórias e fonte para os passarinhos.
Tenho filho varinha de condão, pois trouxe uma mágica nova para a minha vida, e um amor que é edredom. Aconchego e proteção com cheiro de amaciante. Café quente no inverno e chá gelado no verão.
E os amigos malas é claro, como todo mundo tem.
Eu também sou esses objetos, textos, poesias e um pouco mala, às vezes.

O zorro II


Tudo começou quando eu disse que escrevo sobre qualquer coisa, até sobre o cocô do cavalo do Zorro. Não que essas bobagens possam interessar a alguém além de mim. O que importa o excremento do cavalo do mascarado? Teoricamente nada. Mas qualquer coisa pode ser o início de uma conversa, ou de um texto, e um assunto puxa outro, uma palavra traz outra e assim uma crônica.
Em tempos modernos de investigação o famoso cocô poderia indicar o que o cavalo comeu ou seus hábitos mais secretos. Agora, me faz lembrar o filme. O seriado que eu adorava quando era criança.
Refiro-me a versão mais famosa do Zorro, uma série com Guy Williams que foi ao ar em 1958. O cavaleiro mascarado tinha como missão devolver a dignidade a um povo pobre e oprimido. Don Diego De La Vega, filho de Alejandro De La Vega (George J. Lewis), um rico estancieiro, é o Zorro, que sem a máscara é calmo, preguiçoso, amante da música, desajeitado. Isso para esconder o valente e astuto Zorro. Boa essa de dupla personalidade, resolver os problemas do mundo sem precisar mostrar a cara.
Ele tem um criado, o Bernardo, que é mudo e se faz de surdo para ser os ouvidos do Zorro. Representado pelo ator Gene Sheldon. O sargento Garcia, interpretado por Henry Calvin, gosta mesmo é de contar vantagem.
O Zorro tinha notada habilidade com a espada e o chicote. Deixava sua marca, um grande “Z”rabiscado com a espada pelas paredes e até na barriga do sargento Garcia. Isso tudo permanece nas versões mais modernas, por exemplo, A Lenda do Zorro, com Antonio Banderas. O cavalo era representado pelo cavalo mesmo, e o cocô do cavalo nunca apareceu no filme não.
Mas essa conversa, ou crônica, deu muito que falar. Os amigos mais antigos prontamente avisaram que o Guy Williams, nosso famoso Zorro também atuou como Prof. John Robinson em outro seriado da época, Perdidos no Espaço (Lost in Space). Como poderia esquecer June Lockhart (Maureen Robinson), Mark Goddard (Major Donald West), Marta Kristen (Judy Robinson), Billy Mumy (Will Robinson), Angela Cartwright (Penny Robinson), Jonathan Harris (Dr. Zachary Smith) e Bob May (Robô B9-classe M3).
Outros tantos disseram que o país está precisando de um herói, como o Zorro. Talvez, de mascarados já estamos cheios! Mas particularmente, fico analisando o quanto reclamamos e o quanto estamos realmente dispostos a fazer alguma coisa prática. Nada de armas, claro. Sair assim do nosso conforto, da nossa rotina, usar algumas horas para contribuir com a uma ação que pudesse significar mudança em outras pessoas, crescimento.
Acho que estamos mais para cocô do cavalo do Zorro.