quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Qual o seu papel?


Esta é uma brincadeira que sempre gostei de fazer, desde criança. A pergunta é – o que você quer ser?
Crianças adoram ser príncipes e princesas, heróis, bandidos, bonzinhos e malvados.
É bom se dar o direito de ser um cantor e soltar a voz. De ser um ator e representar uma peça. Recitar um poema.
É um exercício lúdico bom de fazer a vida inteira. Foi assim que aprendi a me colocar no lugar dos outros.
Faço de conta que sou minha mãe e consigo entender um pouco mais como é difícil envelhecer, ficar longe dos filhos. Faço de conta que sou meu filho e fica fácil ver como a mãe dele é chata, quando manda para o banho no melhor do jogo.
Trocar de papéis, só um pouquinho, muda o ângulo de visão, a maneira de enxergar as coisas.
Para sentir na prática é só trocar de papéis em atividades reais. No trabalho, ou na faculdade - sendo aluno em vez de professor, servindo em vez de ser servido. Estas idéias me atraem.
Participei uma ocasião de um almoço de final de ano, em uma empresa onde todos os diretores serviam as mesas nas festas. Os funcionários ficavam acanhados no início, mas depois todos estavam à vontade. É uma maneira que os diretores encontraram para retribuir a cortesia com que seus empregados os tratam durante o ano todo.
Ver de maneira diferente desenvolve a criatividade e dá uma chacoalhada na monotonia. Mesmo que certas coisas pareçam não oferecer opções de enfoque, pode sim haver outra maneira.
Moro em Porto Alegre há vinte anos e nunca tinha feito um passeio de barco pelo Guaíba. Surgiu uma oportunidade e aproveitei. O visual é lindo, é diferente, e o pôr-do-sol pode ser mais bonito ainda.
Em uma cena do filme a Era do Gelo 2, uma família se forma, em seguida cada um quer saber qual papel pode ocupar. Sid ( a preguiça) quer ser o cachorro. Muito boa essa cena. A importância que cada um atribui a determinado papel estabelece sua responsabilidade ao exercê-lo.
Temos um papel, um significado, em todas as atividades que exercemos, na família, na política, na sociedade.
Então pergunte a si mesmo qual o papel você quer exercer.

drama

troca de personagens
ele texto
ela imagem

Por que publicar?


Lendo a coluna do Paulo Toledo na Cronópios, onde o título é este mesmo da minha, tomei a pergunta para mim. Por que publicar textos, poesias, dicas literárias, comentários? Por que azucrinar o próximo?
Escrever me faz feliz, é claro não sou masoquista. Os leitores curiosos não resistem. Eu sei, sou compulsiva também. Leio bula de remédio, lista telefônica, dicionário, jornal, revista, livros e mais livros, porta de banheiro público e muito mais.
Uma vez achei até um tesouro. Alugamos uma casa, eu tinha quatorze anos, nos fundos tinha um depósito. Um dia estava sem nada para fazer, testei algumas chaves e uma delas abriu o cadeado.
Era um quartinho do tamanho de uma sala de visitas de um apartamento pequeno. Lá dentro, um sofá e uma enorme prateleira que dava a volta na sala. Na prateleira coleções de revistas e livros.
Nos primeiros dois dias não sei o que fiz mais, li ou espirrei. Depois fui arejando o lugar e levando de uma em uma para ler em casa, marcava o lugar e colocava tudo lá de volta, em respeito à biblioteca.
Quando nos mudamos, despedi-me dela como quem muda de cidade e deixa os amigos.
Por isso eu gosto de publicar, alguém lê, e meu texto pode mudar a rotina naquele dia. Pode, quem sabe despertar a curiosidade para uma outra atitude ou forma de pensar.
Quero publicar em papel também porque muitas pessoas que eu conheço e outras tantas que ainda não conheço, não têm acesso à internet. E muitas outras que andam no trem e no ônibus comigo poderão ler meus livros na viagem. Escrevo e quero publicar para obter aprovação, para ser amada, para fazer a diferença somando, multiplicando.

Livros

nas folhas de papel
aroma é vestígio
de sentimento escondido

Personagens


Essa é a história de um amigo de um amigo meu que queria muito ser escritor. Desses famosos, que vivem de literatura. O sujeito escrevia muito e lia muito também. Ficava aporrinhando todo mundo para ler seus textos. Levava nas reuniões de amigos e da família, no bar, até no velório do tio ele levou.
Pedia opinião, uma crítica, um comentário. Todos liam e diziam que era bom. Ele ficava satisfeito na hora, mas logo batia uma insatisfação que só melhorava se ele escrevesse mais.
A mãe era a única que guardava as cópias, que já enchiam a gaveta do meio da cômoda. Cômoda antiga, gavetas grandes.
Um amigo dele sugeriu que comprasse um computador. Poderia escrever mais rápido, gravar tudo, usar a internet e passar para outras pessoas. Fazer amigos e mandar seus escritos pelo mundo. E ele fez exatamente assim e mais. Participou de concursos, foi premiado, arrumou trabalho como colunista de uma revista importante.
Então os editores começaram a ditar regras e ele escrevia sob encomenda.
A insatisfação voltou com força e ele criou um personagem, alguém livre para escrever. Podia mostrar os textos dele na família, como se fossem de um grande amigo. Todos queriam conhecer o tal amigo que escrevia tão bem. Tanto que ele precisou criar um rosto para o personagem, um estilo uma personalidade, uma história.
Falava muito nele com a esposa, que adorava as histórias do tal amigo. Ela adorava o modo como ele se vestia, os versos que ele declamava, as viagens que ele tinha feito. Passava horas ouvindo o marido contar.
E o personagem foi ficando forte, ocupando todos os espaços, ocupando seu lugar na revista, comprando roupas diferentes, trocando de carro, sorrindo e desfilando nu pela casa.
Os parentes resolveram dar um basta e procuraram a esposa para interná-lo a força.
A surpresa foi imensa.
Ela disse que jamais faria isso, pois ele era muito mais romântico, beijava muito melhor. Era um amante extraordinário. O outro, o escritor aquele, que ficasse bem longe.
Verdade ou não, mantenho meus personagens bem distantes!

Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada.
Uma vez decorei o poema do Manuel Bandeira. Não recitava para ninguém porque lá, neste lugar paradisíaco, tinha alcalóide à vontade e prostitutas bonitas. Não ficava bem para uma menina repetir esses versos, mesmo tendo sido escritos pelo Bandeira. Mas também tem os versos:
...”E quando estiver cansadoDeito na beira do rioMando chamar a mãe-d'águaPra me contar as históriasQue no tempo de eu meninoRosa vinha me contar”...
Quem me dera hoje, poder ouvir as histórias como criança, deitada na sombra, livre de problemas, preocupações, acreditando só na vida. Do tempo de eu menina. Pasárgada pode ser uma noite bem dormida, dinheiro na conta, saúde para todos – já é demais. Pode ser uma viagem de ônibus de volta para casa, ou o celular que não toca para dar notícias ruins.
Depois de grandes na idade, os lugares imaginários ficam mais distantes e quase inatingíveis, mas a sensação de paz, de calor e fantasia – não esquecemos jamais. Basta ficar assim quietinho, respirar fundo e soltar a imaginação.
...”E quando eu estiver mais tristeMas triste de não ter jeito”...
Vou-me embora pra Pasárgada.