domingo, 7 de outubro de 2007

Sim ou não ao internetês


Quando o internetês apareceu na minha casa fiquei preocupada.
Internetês é a simplificação, abreviação, ou supressão de letras usada na comunicação dos jovens pela internet. Também pode significar glossário de termos utilizados na internet, telecomunicações, televisão interativa e outras áreas tecnológicas.
Tudo começou nas conversas no MSN. Meu filho adolescente escreveu para mim – pq vc naum xegou ainda. Traduzindo – por que você não chegou ainda? Essa conversa ficou longa, cheia de letras, e poucas vogais.
Tratei de aprender rápido o novo código para não correr o risco de ser tachada de ultrapassada. Depois foi a fase da informação. Será que isso não poderia prejudicá-lo na escrita?
A maioria dos professores acha que não. Considera que fugir das regras é divertido para os jovens, e que não estão usando uma nova linguagem, apenas uma técnica de abreviação. Aqueles que discordam argumentam que o aprendizado da escrita depende da memória visual e assim estaria prejudicando sim. Bem, se o aluno lê bastante e tem os seus textos corrigidos, supera a dificuldade facilmente.
Um canal de TV paga criou o Cyber Movie, uma sessão onde as legendas são em internetês e aumentou em 60% sua audiência. Os jovens acham mais fácil e rápido ler dessa forma e assistem mais filmes.
Mantidas as proporções e as novas tecnologias, nós que somos pais, tios ou avós, também tínhamos os nossos códigos. O objetivo era manter segredos, caracterizar nosso grupo, não permitir que ninguém soubesse dos nossos planos. As roupas, os cortes de cabelo, as preferências literárias, não deixam de ser códigos que usamos para nos comunicar com esse ou aquele grupo.
O problema só existe se isso afastar os jovens de uma boa conversa. Criar uma distância intransponível no relacionamento familiar.
Claro que muitos jovens brasileiros não sofrerão desse mal. Em um país onde a maioria não usa computador o internetês também será um termômetro para medir a exclusão digital.
Para quem já passou dos quarenta, mas adora internet, recomendo essa nova brincadeira, é divertido, vá treinando.
Kd vc = Cade você?, Flw = Falou , T+ = Até Mais , Oq = O quê?, c = Se ,Vlw = Valeu, Eh = É, Mto = Muito, blz = Beleza, Tb = Também, naum = Não, vc = Você, qm = Quem, tah = tá, certo, tudo bem, D+ = demais, aki = aqui.
V C LÊ E DIVULGA, TAH? D+ VER VC AKI.

Rir é o melhor remédio


Quando eu era adolescente alugamos uma casa que tinha uma peça separada nos fundos do terreno. Logo descobri a chave, e numa tarde em que estava sozinha em casa resolvi desvendar os mistérios do anexo. Era uma pequena biblioteca com uma imensa coleção da revista Seleções. A revista existe até hoje, aliás, completa sessenta e cinco anos de publicação. Um dos segmentos é o “Rir é o melhor remédio”. Na época fiquei viciada e li em todas as revistas, uma a uma. Adorava dar risadas, passava as tardes assim, lendo e rindo. As piadas eram boas, sem maldade, mas muito divertidas. E quem não gosta de rir?
Até hoje procuro sorrir sempre, achar um lado engraçado nas coisas. Não um deboche ou falta de respeito, mas uma graça, um motivo para dar uma gargalhada e relaxar um pouco. Isso acaba me ajudando porque eu rio das minhas próprias gafes e ainda conto para os outros. Acho que é genético, meu pai era assim. Ele morreu faz pouco, já contei, e quando ele já estava em coma, minha mãe me deu uma tarefa muito difícil. Eu deveria ir ao cemitério, no jazigo da família, onde estão enterrados meus antepassados, para verificar as condições e arrumar o que fosse preciso. Além de o local me provocar arrepios, a tristeza por estar precipitando algo que eu não queria passar me corroia por dentro. Enfrentei. E como precisava de uma reforma tive que tratar com um senhor já antigo no trabalho, muito falante e solidário. Ao perceber minha tristeza ele perguntou todos os detalhes e tentando me consolar disse que o que eu estava fazendo era o certo, e que a maioria das pessoas que toma essa atitude acaba dando sorte para o doente que dura mais um mês até. Para ajudar saiu contando outros casos dando exemplos e apontando os túmulos em reforma.
Na hora só pude rir da simplicidade do homem, que acostumado com a morte julgava que uns dias a mais poderiam me servir de consolo. A risada aliviou minha tensão e me fez ver que tudo isso não era nada diante das muitas coisas boas que eu tinha feito com meu pai enquanto ele tinha saúde e o quanto tínhamos rido juntos.

Respostas

Sempre procuro respostas. Mal uma pergunta começa a ser formulada e já estou pensando em uma maneira para respondê-la. Um modo, uma solução. É comum pensar que sempre tem um jeito.
E a vida me diz que para a velhice e a doença na velhice, não existe solução. Encontrar um meio de lidar com isso não é fácil. Eu quero acreditar que é bom envelhecer com saúde, é, eu sei. Mas não é para sempre.
De repente aquele sujeito alegre, cheio de histórias, quase com oitenta e cinco anos, vira bebê. Não come com sua própria mão, não consegue ir ao banheiro, nem sequer sente que quer ir ao banheiro.
Estranho é que ele diz sim a todas as minhas perguntas e sorri sempre. Mais estranho é, que se eu pudesse simplesmente apertar em um botão, e desligá-lo de tudo que ele está passando, eu faria.
Chega, uma vida é legal enquanto a gente pode mandar nela. Depois é humilhação, sofrimento.
Talvez este sofrimento sirva para resgatar algo que temos que viver nessa vida, para amansar o egoísmo, unir a família. Mostrar que dinheiro não adianta, só dá alguma dignidade. E nem é tanto, nem suficiente.
O plano de saúde que toma a metade do meu salário, proporciona certo conforto, menos ao meu coração.
Tenho privilégios que outros não têm. Passo a frente deles nas filas e isso não muda nada. Não responde nada.
Ao contrário, mostra diferenças que eu me envergonho de ter.
Como devo agir, como será daqui para frente, quanto tempo vou viver esta situação? Não sei a resposta.
Dá vontade fazer da vida um programa na televisão e ficar sentado, com o controle remoto na mão. Se estiver chato, troco de canal. Dia de comédia - aproveito. Dia de votação, elimino o problema.
Mas não vai funcionar por muito tempo.
Quem sabe a resposta não é encarar da melhor forma possível, agir com o coração, com aquela velha intuição e superar.
Escrever sobre a doença do meu pai, sua passagem pelo hospital e espero que seu retorno para casa, em melhor estado, é um desabafo, pois não consigo pensar em outra coisa. Também é uma maneira de dizer para outras pessoas que tem alguém que sofre como elas, que temos os mesmos problemas. Que buscamos respostas.
Essa reflexão lembrou-me a última frase de uma resenha de Celso Gutfreind, sorbre o livro da Cíntia Moscovich – Por que Sou Gorda, Mamãe?.
“Por que Sou Gorda Mamãe? Sugere ainda, com simplicidade, brabeza e doçura, que a vida pode ser interessante nela mesma, na morte revisitada ou, juntando tudo, na literatura.”
Acho que é uma resposta. Na alegria ou na tristeza, a vida acaba valendo a pena, e quem sabe vira até livro.


Obs: meu pai faleceu dias depois.