sábado, 26 de maio de 2007

Felicidade não tem precisão de luxo


Depois dos quarenta anos a gente adora relembrar. São as músicas que dançávamos, as roupas da moda, os filmes que assistimos juntos, os brinquedos e tudo mais.
No meu tempo era assim! Frase que corrijo sempre, pois meu tempo, nosso tempo, é agora. E será nosso tempo enquanto estivermos vivos, ativos, querendo mais e melhor.
Meus amigos, assim como eu, vieram na maioria da quase extinta classe média baixa. Estudamos em escolas públicas. Levávamos merendas de casa, que eram muito parecidas: pão com banana, pão com margarina e mortadela, pão com doce de leite. Naquela época, da nossa infância, nossas mães cozinhavam. Faziam pães, doces, comidas, cujo sabor trazemos na memória até hoje.
Refrigerantes só em festas, e filé só depois de adulto e trabalhando.
Mas nossos filhos, estamos criando com o bom e o melhor. Estudam em escolas particulares, usam roupas da moda, fazem curso de inglês, atividade física, têm o melhor computador, mp3, DVD. Só comem filé.
Para isso, fazemos um grande esforço. Agora os casais trabalham, as mães não cozinham tanto. Ansiamos por prepará-los bem, pois o mundo modernizou-se rapidamente e a competição é muito grande.
Talvez algumas atitudes possam nos trazer arrependimentos futuros. Tantos jovens estão usando drogas, a violência cresce assustadoramente. Nossa parcela de culpa será dada pela falsa visão do mundo que passamos aos nossos filhos? Um mundo onde todos os seus desejos são atendidos, onde alguém trabalha para seu conforto e tranqüilidade. Onde só existe fartura e felicidade.
O choque com a realidade pode ser muito duro.
Tenho confiança de que isso não aconteça. Que fique também na memória as coisas boas que fizemos juntos. Os valores da família, a ética, a bondade.
As festas que fazemos no quintal de casa, onde cada um trás alguma coisa. A vontade de todos de partilhar.
Na comemoração dos oitenta e quatro anos do meu pai foi assim. Quis justificar para ele que todos estavam voltando de férias, pagamos impostos e materiais escolares, o dinheiro anda curto. Por isso não fizemos uma festa melhor.
Ele disse o que espero sirva de lição para o meu filho e outros filhos da nossa geração:
- Felicidade não tem precisão de luxo.

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