domingo, 7 de outubro de 2007

Respostas

Sempre procuro respostas. Mal uma pergunta começa a ser formulada e já estou pensando em uma maneira para respondê-la. Um modo, uma solução. É comum pensar que sempre tem um jeito.
E a vida me diz que para a velhice e a doença na velhice, não existe solução. Encontrar um meio de lidar com isso não é fácil. Eu quero acreditar que é bom envelhecer com saúde, é, eu sei. Mas não é para sempre.
De repente aquele sujeito alegre, cheio de histórias, quase com oitenta e cinco anos, vira bebê. Não come com sua própria mão, não consegue ir ao banheiro, nem sequer sente que quer ir ao banheiro.
Estranho é que ele diz sim a todas as minhas perguntas e sorri sempre. Mais estranho é, que se eu pudesse simplesmente apertar em um botão, e desligá-lo de tudo que ele está passando, eu faria.
Chega, uma vida é legal enquanto a gente pode mandar nela. Depois é humilhação, sofrimento.
Talvez este sofrimento sirva para resgatar algo que temos que viver nessa vida, para amansar o egoísmo, unir a família. Mostrar que dinheiro não adianta, só dá alguma dignidade. E nem é tanto, nem suficiente.
O plano de saúde que toma a metade do meu salário, proporciona certo conforto, menos ao meu coração.
Tenho privilégios que outros não têm. Passo a frente deles nas filas e isso não muda nada. Não responde nada.
Ao contrário, mostra diferenças que eu me envergonho de ter.
Como devo agir, como será daqui para frente, quanto tempo vou viver esta situação? Não sei a resposta.
Dá vontade fazer da vida um programa na televisão e ficar sentado, com o controle remoto na mão. Se estiver chato, troco de canal. Dia de comédia - aproveito. Dia de votação, elimino o problema.
Mas não vai funcionar por muito tempo.
Quem sabe a resposta não é encarar da melhor forma possível, agir com o coração, com aquela velha intuição e superar.
Escrever sobre a doença do meu pai, sua passagem pelo hospital e espero que seu retorno para casa, em melhor estado, é um desabafo, pois não consigo pensar em outra coisa. Também é uma maneira de dizer para outras pessoas que tem alguém que sofre como elas, que temos os mesmos problemas. Que buscamos respostas.
Essa reflexão lembrou-me a última frase de uma resenha de Celso Gutfreind, sorbre o livro da Cíntia Moscovich – Por que Sou Gorda, Mamãe?.
“Por que Sou Gorda Mamãe? Sugere ainda, com simplicidade, brabeza e doçura, que a vida pode ser interessante nela mesma, na morte revisitada ou, juntando tudo, na literatura.”
Acho que é uma resposta. Na alegria ou na tristeza, a vida acaba valendo a pena, e quem sabe vira até livro.


Obs: meu pai faleceu dias depois.

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