Tem muita gente que prefere deixar o melhor para o final. Primeiro as notícias ruins, depois as boas. Primeiro as tarefas complicadas, depois as fáceis. Assuntos chatos primeiro, depois os mais leves. Para ficar livre logo do que parece mais difícil.
O Jorge e o Paulo, meus primos, eram assim quando pequenos. Na hora do almoço deixavam por último a carne, que consideravam o melhor. Época de pouca carne aquela, bife era luxo. Carne de primeira então, nem se fala. Achava maravilhoso o ritual que os dois faziam, contornando a carne, comendo o arroz com feijão, a salada e a guarnição. Sobrava no prato limpo, soberano, o bife. Segurando com o garfo e protegendo com a faca eles encontravam a melhor posição e finalmente, com cortes precisos, faziam filetes que eram levados lentamente à boca. Enquanto mastigavam, os talheres permaneciam protegendo o restante da carne.
Como boa aprendiza, copiei a tática. Quando ganhei uma caixa com seis doces, só para mim, apliquei o que foi observado. Comi primeiro os quindins, depois os branquinhos e deixei os dois brigadeiros, maravilhosos, para o final. No meu exército de doces preferidos, eles, os brigadeiros, desrespeitam qualquer hierarquia militar e são superiores a qualquer general olho-de-sogra e marechal papo-de-anjo. Na hora do bem merecido ataque, minha mãe recebeu uma visita, uma amiga que trouxe junto uma filha. A danada já entrou de olho na minha caixa. E o general mãe decretou que os últimos dois seriam destinados a ela. De boca lambuzada e cheia de raiva, entreguei-os para a morte naquela boquinha desdentada.
Teorias reprovadas desde muito cedo, impedem-me de deixar sempre o melhor para o final. Se tiver coisa boa que venha agora, pois coisas melhores serão desejadas e conquistadas, se deixar para o final, alguém pode levar a melhor. Acreditem!
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