domingo, 29 de abril de 2007

A casa


Estou examinando as metáforas usadas por diversos autores. Tudo começou com a leitura de João Gilberto Noll. Ler o escritor já é uma metáfora, e ele usa muitas que eu gosto o que despertou meu interesse em analisar outros autores. O livro é Mínimos, Múltiplos, Comuns. São trezentos e trinta e oito romances mínimos. Também gosto muito de micro narrativas.
Metáfora, para quem não lembra, é o emprego de uma palavra em sentido figurado, caracterizada por uma relação de semelhança para estabelecer um novo significado. Assim podemos dizer que Luiza é uma flor, que ela fez uma doce aparição, que sua capacidade foi a chave do problema.
João Gilberto Noll escreveu, no conto Sarça Ardente: “Pois, por uma fresta uma vez entrei ali, e tudo lá dentro era um cheiro que produzia em mim, digamos, umas bolhas no raciocínio – idéias desidratadas no meio daquela umidade prenha.”
Costumo usar tropos, falo do chefe quando quero falar dos problemas difíceis de enfrentar, dos medos, da opressão. Deste modo, como muitos outros já fizeram, para mim a casa é o centro do mundo, o refúgio, o íntimo de cada um...
A casa em silêncio.
Todos dormem até que o sol pense em aparecer. A mãe acorda e o cheiro de café impregna o ambiente onde o sono teima em manter o filho na cama. O pai levanta e o ruído navega entre os lençóis, fronhas e travesseiros.
Logo todos comem as frutas e o pão, xícaras quase vazias. O jornal informa a previsão do tempo. Escovam, ouvem, olham. A casa vê no espelho da sala.
Saem, e o silêncio é quebrado pelo canto dos canários. A casa quieta. A tarde é lenta, e o sol entra por outra janela, vai longe, do quarto ao quarto.
As sombras anunciam a volta da família, quando a cozinha transforma a casa em aromas e sons. A água, os pratos, a mesa.
Os temperos que compõem o jantar.
As conversas animam a casa, com um pouco de todos e um espaço de cada um.
As roupas, as fotos na parede, os livros na estante, os brinquedos no tapete.
A família guarda na casa sua história e é a própria casa.
Por isso a casa é tão importante. Na música do Gilberto Gil, metáfora, que diz: “Uma lata existe para conter algo,/Mas quando o poeta diz lata/Pode estar querendo dizer o incontível”
Poderia ser casa em vez de lata. E ele diria:
- Por isso não se meta exigir do poeta /Que determine o conteúdo em sua CASA/Na CASA do poeta tudo-nada cabe.
Assim passei o domingo em casa, colhendo metáforas para uma semana habitual.

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