Não lembro do meu aniversário de quatorze anos. Lembro dos quinze porque teve reunião dançante, bolo em forma de leque, anel de brilhante e viagem.
Pensar na minha adolescência faz lembrar de espinhas, muitas espinhas, de poesias sobre a vida e sobre o amor, que eu lia e escrevia sem parar.
Não namorei muito, é verdade, culpa da minha altura, combinada com meu nariz e meus cabelos. Mas tinha mais amigos do que amigas. Graças ao meu bom humor e discrição.
Achava muito legal ser guri. Essa coisa de ser bonito ao natural me fascinava. Não pintavam as unhas, nem arrumavam ou domavam os cabelos. Espinhas? Azar.
De calças compridas e tênis sem ter que sentar direto. Subir em árvore, cuspir no chão, mascar chiclete descaradamente.
Mais legal ainda era ser guria e fazer tudo isso.
Em plena festa largávamos tudo e íamos jogar bola no pátio. Imagina se de unhas compridas e salto alto isso seria possível.
Depois dos quinze não deu mais. As pessoas cobram, reclamam, condenam. Meninas não podem andar misturadas com os meninos. Intrigam a cabeça dos guris que passam a olhar as gurias de um modo diferente.
Fazer o quê? Tricô, bordado, cozinhar. Tem sua utilidade, pratico até hoje, quando meu guri faz quatorze anos.
Está bem mais alto do que eu, o que é bem fácil. Esperto, inteligente, e não é por ser meu filho, o boletim do colégio confirma.
Um verdadeiro cavalheiro. Carregas as sacolas, abre a porta para mim, oferece ajuda. Abre também garrafas de refrigerante e vidros de pepino. Mas não abaixa a tampa do vaso, nem repõe o papel higiênico. Um verdadeiro representante da espécie dominante na minha casa.
Entre os presentes, ganhou um barbeador, pois já tem barba o guri, tem também idéias próprias e argumentos.
Como é que a gente não vai ficar velha. E assim, vamos escrevendo páginas e páginas nas folhas da vida.
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